A peça de Zora Seljan, "Exu, o cavaleiro da encruzilhada", será lida no contexto da Exposição de Arte Africana que se encontra no Arte Sesc (Rua Marquês de Abrantes, 99 - Flamengo) no decorrer do seminário a se realizar no auditório: dia 21 de novembro das 18h às 18h45, conferência "Alma da África" e, das 19h às 19h45, conferência "Um rio chamado Atlântico", de Alberto da Costa e Silva.
No dia 22 de novembro das 18h às 18h45, conferência "Do dito ao escrito: a arte e o saber das ialorixás", de Yeda Pessoa de Castro, etnolingüista, e das 19h às l9h45, mesa-redonda "Xangô: rei, mito e herói ioruba", com a coordenação de Raul Lody, antropólogo, e participação do autor destas linhas, Bira de Xangô, babalorixá, e Roberto Conduru, historiador da Arte.
E finalmente, no dia 23 de novembro, às 18h, será a leitura dramatizada da peça "Exu, o cavaleiro da encruzilhada", de Zora Seljan, com a direção de Ramon Santana, Caxinguelê, sendo representado por Alexandre Constantino, Briguela, por Ana Ce; Exu, por Rodrigo Nunes; Frajola, por Silvia Werneck, e Nezinho, por Tiago Quites. E às 19h será o lançamento da minha trilogia "Alma da África", com os livros "A casa da água", "Rei de Ketu" e "Trono de vidro", edições Bertrand Brasil.
Tudo começou com a estranheza do professor Agenor Miranda Rocha, o famoso "oluô" (sacerdote de Ifá, o deus da adivinhação), que disse a Zora: "Como? Você escreveu peças para Oxalá, Xangô, Oxum, Iansan, Nanan e Iemanjá - e não escreveu uma para Exu? Ele deveria ter sido o primeiro.
Foi assim que Zora compôs "Exu, o cavaleiro da encruzilhada", ao longo de viagens pelos aeroportos do mundo, principalmente numa ida e vinda a Seul, na Coréia do Sul. Eram 25 horas para lá e 25 para cá e, entre os ares do Rio e de Miami, depois até Los Angeles, com a etapa final de 13 horas de Los Angeles a Seul, é que Zora foi criando seus personagens e escrevendo sua peça.
Na Itália, o editor Santes Bagnoli soube da peça, interessou-se por ela, e assim apareceu a versão italiana, de Amaryllis Vianna. Em Londres, Cynthia Air fez versão em inglês, que passou às mãos do dramaturgo e produtor Ronald Phillips, que se responsabilizou pelo que veio a ser "Exu, knight of the croosroads".
O ator Christopher Toba, a quem veríamos numa peça adaptada de conto do Tchecov adaptada pelo próprio Ronald Phillips, procurou-nos para dizer que desejava levar a peça em Londres. O teatro foi o Barons Court Theatre, do "fringe" londrino (equivalente ao "off Broadway", de Nova York).
Vale a pena dar as opiniões dos três jornais que noticiaram a peça: o "On the Stage" (especialista em teatro, como o nome indica), "TNT" e "The Independent". A primeira assinada por Nikki Bowden diz: "`Exu' é exótico, erótico e irônico. Não haverá perigo de alguém dormir durante o espetáculo, principalmente nas cenas em que Exu aparece. Veja a peça de Zora Seljan e entre no sonho que ela instiga. `Exu' não o desapontará."
No "TNT", assinada por Arthur Berman, sob o título de "EXU ... BERANTE" - "A história de Nezinho, sua mulher, seus amigos e o amante de sua mulher, é um relato moral de esperança e sonhos de gente pobre. E uma história muito bem contada, de ritmo veloz e texto cheio de humor, acentuados pela performance vigorosa de todo o elenco, principalmente pelos meneios de Beaux Bryant no papel do "good old" Exu."
Na do "The Independent", assinada por David Benedict: "Abrir uma peça com a força de 'Exu, knight of the crossroads', com a sacerdotisa (Beaux Bryant) em cena de possessão, é um risco. Dá a idéia de que dificilmente se manterá o ritmo até o fim. Contudo, o elenco da peça consegue fazê-lo a um nível de exuberância que chega à última palavra."
Mostrar a peça de Zora, através de leitura por atores, completará o plano, feito pelo SescRio, de apresentar vários aspectos da cultura africana, fazendo-o tanto por meio da exposição de peças raras da arte realizada naquele continente e executada em geral por artistas desconhecidos como através de debates num seminário, completando com a leitura de uma peça teatral baseada na tradição dos orixás.
O livro "Exu, o cavaleiro da encruzilhada" foi lançado no Brasil pela Editora Grafline, revisão de Litiere C. Oliveira com capa de Rogério W. S.
Tribuna da Imprensa (RJ) 13/11/2007