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Agora, às tropas de Chávez

 

Chávez acaba de anunciar o apoio militar, incontinente, a Morales caso se desfeche a ofensiva do status quo boliviano contra o Presidente. O quadro de tensão só se fez agravar nestes últimos meses no país andino, entre as forças nacionalistas, hoje, no governo e a resistência das áreas mais ricas do país, em volta de Santa Cruz, no modelo mais clássico do neoliberalismo. O fantasma desde a vitória de Morales, era o do possível racha, de fato, da Bolívia com a criação do Estado do Oriente, deixando o Altiplano e a nação indígena do possível país aymara.


O aliado de Chávez chegou ao poder pelo Movimento ao Socialismo – o MAS – numa onda política inédita, que demoliu de vez o regime enraizado no velho sistema. Nascia de uma antiga reivindicação, estritamente regional dos produtores de coca que ganhou expressão inovadora de identidade coletiva, em rolo histórico compressor. Dos 3.3% de votos em 97, atingiu o coeficiente majoritário inequívoco dos 53.7% em 2005. Identificado a uma aspiração de esquerda, o partido se metamorfoseou pelo seu sucesso. Nascendo de uma superação de marginalidade reconheceu-se para além do denominador meramente étnico, dos campesinos aymaras.


Há um qüinqüênio se poderia falar do empuxe indígena, mas, hoje, a vitória eleitoral já é a de um repúdio nítido ao modelo econômico capitalista exportador, que não encontrara, até hoje, alternativa no país andino. A nacionalização das riquezas de base, a partir do petróleo mostrou, de logo, a guinada histórica, do novo Presidente. O Brasil, inclusive, entendeu a reivindicação e não pôs óbices a que os contratos da Petrobrás se vissem como obstáculos “imperialistas” ao governo emergente. É claro que todo este levante político se identificaria ao pólo de Chávez e a uma frente continental mais ambiciosa e contundente, no propósito contra o enlace hegemônico do Salão Oval.


Há que salientar o misto de protagonismo pessoal, e lance histórico, em que Chávez quer encarnar o realinhamento das nossas periferias após o colapso do Terceiro Mundo. E insistiu, de logo, nas beneficências econômicas dos vizinhos, graças à sua riqueza petrolífera, necessitada pelos Estados Unidos, e inteiramente em mãos, hoje, do monopólio de Estado.


O bloco bolivariano somou agora Quito a Caracas e La Paz. Mas Morales é, de longe, o mais frágil dos sócios, e objeto de uma política já claramente assistencialista e social da Venezuela. À luz desse fortalecimento imediato da aliança anti-hegemônica, Caracas aceitaria o risco calculado da separação do Estado do Oriente. Mas não os que potentados e latifundiários de Santa Cruz viessem à derrubada do Presidente, em La Paz, e à eliminação do MAS na sua histórica virada de página no coração dos Andes.


Chávez tem se desdobrado na sucessão de promessas financeiras, pressões internacionais, benesses petrolíferas, para mudar de vez o formato da cooperação econômica intra-América Latina. Não se precisa salientar os contratempos e os travos, em que os pactos em projeto frearam, ao mesmo tempo, toda idéia clássica do Mercosul, em busca de novos eixos continentais. Tolerem-se aí todas as esperas ainda e o que seja, esperando a queda eleitoral de Bush, o novo perfil das Organizações Internacionais no nosso continente, fora da regra do jogo do Salão Oval.


O inadmissível, entretanto, para Chávez, neste tempo de aguardo, são as regressões da opção de base em que a dita frente bolivariana já ganhou três países. As tropas de Chávez vão a Bolívia. Sua revolução tem hoje, como reféns, sem volta, a permanência de Morales em La Paz, e Correa, em Quito.


Jornal do Commercio (RJ) 18/10/2007

Jornal do Commercio (RJ), 18/10/2007