Foi muito bom ter ido a Manaus para conhecer de perto o que pensam as suas autoridades a respeito dos problemas da educação. Os secretários José Dantas Cirilo e Gedeão Timóteo sintetizaram o que os anima: “Que as crianças possam crescer felizes, com maiores investimentos em educação e pesquisa.” Defenderam a ocupação do espaço existente no nível intermediário, para a oferta de bons empregos, tomando como exemplo o que na região representam os investimentos da Escola Nokia.
Seria uma forma de proteção do patrimônio amazônico, como afirmou o economista Jayme Magrassi de Sá, ex-presidente do BNDES, que defende um tratamento rejuvenescedor da sua integridade, muitas vezes abalada pelo ritmo de desmatamento, a pecuária extensiva e a pirataria madeireira. A educação serviria de poderoso antídoto.
Para o deputado Paulo Delgado (PT-MG), constituinte de 88 e ex-presidente da Comissão de Educação da Câmara (quando foi criado o Fundeb), presente no Seminário do CIEE, na Suframa, “o nosso País está integrado graças à existência da língua portuguesa”. Pretende a existência de uma educação para a felicidade, a convivência e a vida, sugerindo a adequação do ideal ao real. “Na luta pela qualidade, é preciso escandalizar, aumentando, com criatividade, a pressão da
sociedade.”
Diante de uma platéia de 400 professores e executivos, o deputado mineiro condenou a apatia e demonstrou o seu inconformismo diante de uma realidade aparentemente incompreensível: “No Chile, 40% das matrículas do ensino médio destinam-se ao profissionalizante imediato, enquanto o Brasil não chega a 10%.”
A violência diminui em áreas onde existem boas escolas (a defesa da qualidade), embora tal fato não seja caracterizado por uma generalização. No Rio de Janeiro, por exemplo, em áreas dominadas pelo tráfico de drogas, muitas vezes as escolas são fechadas, por medida de segurança, para não colocar em risco a vida das crianças. Ora são combates contra a polícia, são brigas de facções inimigas. Com a ampliação dos equipamentos sociais, como é obrigação dos governos, o fenômeno pode ser grandemente atenuado, pois o nosso grande desafio é o combate à ignorância, em que devemos estar todos empenhados.
Voltando ao Amazonas, compreendemos os esforços do seu povo, que é notoriamente generoso e hospitaleiro. Não há como comparar o que lá se faz com outras realidades regionais. São necessários bons livros didáticos, para os alunos carentes com o enfoque voltado para as suas claras necessidades. Não podemos seguir padrões urbanos de grandes capitais, como São Paulo, de onde provém cerca de 80% da produção nacional de livros didáticos adquiridos pelo MEC. Onde fica a proclamada justiça social e o atendimento às peculiaridades locais?
Qualquer que seja o livro, esse precioso instrumento de cultura, acrescente-se a tudo dificuldades para a sua distribuição, muitas vezes feita por intermédio da utilização de barcos que atravessam, lentamente, a malha fluvial amazônica. “Outro dia, disse-nos o secretário Gedeão Timóteo, precisava me deslocar até o alto Juruá. Só podia ser de avião. Com o aeroporto interditado, o acesso ficou impossibilitado.” Por aí se mede o vulto do sacrifício. Ainda bem que há os que não desistem.
Jornal do Commercio (PE) 12/10/2007