A regra em regimes eleitoreiros como o nosso é contratar e não demitir.
O conceituado O Globo publicou a seguinte manchete ontem: Lula: choque de gestão é contratar, e não demitir. A regra em regimes eleitoreiros como o nosso é contratar e não demitir, embora a habilidade esteja em não contratar e não demitir. Segundo normas técnicas, existem inúmeras repartições, com muitos funcionários inúteis, que nunca serão demitidos por constituírem votos seguros dos chefes políticos em evidência.
É sabido que as repartições públicas de todo o País têm, em regra, excesso de funcionários, a tal ponto que irritaram os chineses, que são, como é sabido, os campeões da burocracia política. A conjunção do verbo demitir não consta em regimes eleitoreiros como o nosso, mesmo porque uma demissão diminui o fator número de votos dos chefes políticos em evidência, que não gostam de demitir.
Chame-se, pois, como se quiser: choque de gestão ou gestão contrariada a que contrata e demite, embora seja rara a demissão de funcionários públicos que devoram a maior parte dos orçamentos das três gestões, da União, os estados e os municípios. Lembramos de Fernando Collor de Mello, que como presidente prometeu aliviar o Estado dos marajás da burocracia; não fez e não reduziu em nada o pessoal ocupado, ou mal ocupado, nas mesas de trabalho das repartições públicas em geral.
Sabemos que administrar é extremamente difícil, mormente uma máquina administrativa da extensão das federais ou mesmo as estaduais e municipais. Durante o período de Getúlio Vargas, do Estado Novo, atuou o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), que deu origem a estruturação administrativa das repartições públicas, vindo a cair quando caiu Vargas, em 29 de outubro de 1949.
O problema brasileiro está esquematizado nas repartições públicas superlotadas, sem a necessidade de assim estarem, a não ser para atender aos apelos dos candidatos aos cargos executivos ou não. Mas essa não é a função do Estado, mas sim dos grupos eleitoreiros.
O que o DASP tentou fazer foi separar o vezo eleitoral da obrigação administrativa de bem governar o País. Não teve tempo de fazê-lo por completo, mas deixou-nos uma lição de eficiência digna de aplausos.
Fica aí o nosso ponto de vista sobre choque de gestão.
Diário do Comércio (SP) 4/10/2007