Não acredito em fidelidade partidária por um motivo muito simples: ela não interessa aos magnatas dos votos.
Durante trinta anos o Partido Republicano Paulista-PRP e seus congêneres estaduais lutaram contra a infidelidade partidária. Durante esse tempo o PRP pugnou pela fidelidade partidária como princípio fundamental dos partidos políticos. Era famosa a frase do partido e de seus congêneres: Para o PRP tudo, para os inimigos, a Justiça. E para os indiferentes, a moleza.
Ninguém saía do PRP .Só em 1924 um político de grande prestígio, Silva Prado, resolveu quebrar essa hegemonia, fundando o Partido Democrático , que fez carreira em São Paulo com um jornal de grande tiragem para época, o Diário Nacional , e políticos contrários à hegemonia perrepista.
Foi Getúlio Vargas quem, atendendo a inquietação dos quartéis, fez a Revolução de 30, que marcou uma mudança completa na política brasileira e nas relações de trabalho, com a consolidação das leis trabalhistas numa CLT, dada aos trabalhadores e aos patrões em 1942 e vigente até hoje, com poucas modificações substanciais. Do PRP ficou a lição da fidelidade partidária, que perdurou nos distritos eleitorais, uma das ilusões de Rui Barbosa, que acreditava na candidez do eleitor e do candidato.
Depois de 30 não tivemos fidelidade partidária se não num dos governos da Revolução de 64; depois, foi banido e não se voltou a falar nisso, a não ser de tempos em tempos, quando se falava de reforma política, essa que nunca veio porque não interessa aos políticos nenhuma reforma.
A democracia se impôs na Nação sob aprovação do povo, esse povo que derrubou o Estado Novo de Getúlio Vargas para implantar o regime democrático pleno. Volta agora a matéria ao Supremo Tribunal Federal (STF), que se preocupa dentro de seu quadro de interesses com a fidelidade partidária para evitar o troca-troca de partidos pelos políticos, que querem sempre a melhor legenda para se candidatarem no próximo pleito.
Confesso que não acredito em fidelidade partidária no Brasil, por um motivo muito simples; porque isso não interessa aos políticos, principalmente aos magnatas dos votos. A fidelidade partidária existe nas democracias européias e americanas do norte. Embora o Partido Democrático seja muito semelhante ao Partido Republicano nos EUA, quem pertence a um não passa para o outro, sendo raros os casos de cisão partidária por políticos de prestígio.
Em conclusão, digo que não acredito na fidelidade partidária no Brasil, ainda que o STF a sustente, coisa estranha na nossa legislação eleitoral.
Diário do Comércio (SP) 5/10/2007