O senador Renan tornou-se xaroposo e com isso acentua o desprestígio das instituições políticas. Um desserviço à Nação.
Quem freqüentou o setor das especialidades farmacêuticas está capacitado a compreender o título que dei a esse artigo, sobre o quase inverossímil caso do senador Renan Calheiros.
Entende-se bem a expressão usada pelos químicos, nos laboratórios farmacêuticos, quando o filtro do xarope não deixa passar a massa gordurosa pelo orifício mais fino, através do qual deve transitar a especialidade farmacêutica em fabricação.
Está acontecendo exatamente isso com o senador Renan Calheiros, que não quer ceder depois de todo o sumário de culpa formado contra ele pela mesma Casa na qual foi eleito presidente.
Esse caso, que culminou com a enxurrada de maculações contra a política brasileira e a representação popular elegida para as câmaras superiores, foi mal recebida pela opinião pública, a começar pela página do Correio Brasiliense de 13/09, editado pelos Diários Associados ("Vergonha!") e pelos jornais que não pouparam argumentos contrários ao ato do Senado.
O senador Renan Calheiros está recalcitrando, tornando-se desta maneira xaroposo, não cedendo sua posição e seu cargo aos colegas e com isso acentuando o desprestígio das instituições políticas, o que é um desserviço a Nação.
Ainda não tivemos um caso igual a esse e ocorre exatamente quando supúnhamos que havíamos atingido um grau de fidelidade à democracia susceptível de nos orgulharmos com nosso imenso esforço para chegarmos a esse padrão. Não compreendemos por que o senador Renan Calheiros, portador de quarenta votos de seus colegas, não queira ceder, mantendo-se xaroposo na cessão de suas atribuições e prerrogativas.
Renan deve compreender que houve um hiato histórico, ao qual o Brasil não pode ser indiferente. Nossa política já não é a mesma, é mais exigente em ética ou moral do que era antes, e ele fica sendo o ponto de verificação dessa mudança inesperada.
Diário do Comércio (SP) 18/9/2007