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O papel que ele faz

 

RIO DE JANEIRO - Para ser sincero, comentar mais uma vez o caso do presidente do Senado, absolvido pelos seus colegas na semana passada, é um saco maior do que aquele que Papai Noel usa no natal. Chamar os senadores que o apoiaram de sicofantas não adianta mesmo -nem os próprios sabem o que é e o que faz um sicofanta.


Em nenhum momento duvidei da absolvição e da choradeira posterior daqueles que esperavam a condenação. Para pressionar a maioria do Senado, faltou a mobilização popular, que foi eficiente e decisiva no caso do impeachment de Collor.


E por que faltou a mobilização das ruas? O único partido com know-how para isso seria o PT, como foi o antigo PC de outros tempos. No caso de Collor, deve-se ao Partido dos Trabalhadores não só a massa de documentos que alimentou o processo mas a massa de povo que saiu às ruas. Desta vez, porém, o PT estava do outro lado, comprometido com o governo e com os escândalos da gestão petista -da qual a corrupção generalizada na vida pública é uma decorrência e um preço pelo apoio que dá ao governo.


A mídia não atinge a elite da elite, que está se lixando para a mediocridade financeira das negociatas que somente escandalizam a classe média. Quanto ao povão, não tomou conhecimento daquilo que um dos entrevistados na praça da Sé, em São Paulo, chamou de "novela".


No dia da votação no Senado, o cidadão respondeu a uma enquete feita por repórteres de vários jornais e emissoras de rádio e televisão. Disse que não sabia de nada, não tivera tempo para "acompanhar" aquela novela sobre a qual perguntavam. Trabalhava o dia todo e só podia "acompanhar" as novelas da noite -gostava muito da Camila Pitanga. Sobre Renan Calheiros, perguntou: "Qual é o papel que ele faz?".


Folha de S. Paulo (SP) 18/9/2007