O nosso DC deu o título exato na manchete de ontem: Foi o dia da caça . Julgado pelo Senado, Renan Calheiros se livrou da cassação com o voto de quarenta colegas , foi o título do jornal O Globo . Já a Folha de S. Paulo deu o seguinte título: Senadores absolvem Renan . E o jornal O Estado de S. Paulo, a seguinte manchete: Renan escapa da cassação com ameaças e ajuda do Planalto.
A esse propósito, dizemos que o Senado é como a mulher de César no Império Romano: não pode ser apenas pura, tem também que ter a aparência de pura. O Senado estava nestas condições: não precisava ser ético, mas tinha que parecer ético. Foi disso que a Casa não se lembrou de assegurar: a pureza ética e a aparência da pureza ética.
A política brasileira anda excessivamente desacreditada perante a opinião pública, que é quem faz as eleições. Nessa questão, o Senado tinha a oportunidade para dar a lição de ética que a opinião pública esperava, mas tal não se deu. O dia foi da caça, o presidente do Renan Calheiros, que, como escreveu O Estado de S. Paulo , escapou da cassação com ameaças aos seus colegas e conseguiu que seis senadores se abstivessem de votar. São coisas da política, que um escritor mineiro muito conhecido costumava comparar aos gângsteres americanos.
Gângsteres ou não, o Senado deixou passar uma excelente oportunidade para punir um colega com culpa formada no campo da ética, por ele desrespeitada. Como foi possível absolvê-lo - e como ele mesmo declarou à imprensa, a renúncia não está em seu dicionário - tudo fica por isso mesmo no Brasil de nossos dias.
Finalmente acabou a novela Renan Calheiros, concorrendo no tempo com O direito de nascer , uma novela que não acabava mais e que hoje mais ninguém se lembra, como ninguém se lembrará daqui a alguns anos do caso Renan Calheiros e de sua novela, a inacabada e a acabada.
É o que tenho a dizer sobre o caso Renan Calheiros . Para todos os efeitos é uma página virada na história da política brasileira e do acatamento ou não de princípios éticos.
Diário do Comércio (SP) 14/9/2007