Leio que os chineses estão irritados com a burocracia brasileira. É de espantar que isso ocorra. Mas quem conhece nosso país e tem a possibilidade de compará-lo com os Filhos do Céu e o Império do Meio não ficará alarmado que o Brasil tenha superado a China em obstrução burocrática, dessas de eriçar as tranças solenes usadas pelos mandarins, a classe de mando na estrutura administrativa do antigo Império do Meio.
Quem ler sobre a China de hoje e a China de sempre, como historiou Alain Peyrefitte, com a minúcia e a paciência exigidas por seu autor, verificará que a burocracia pode ter sido originada no antigo Império do Meio , pois os Filhos do Céu sabiam se mover dentro do universo burocrático criado pelo mandarinato para vencer seus opositores ocidentais e mesmo os orientais. Nunca, porém, seria comparado com qualquer outro país, pois a China sairia ganhando em burocratismo. Verifica-se, agora, porém, que a China foi abatida naquilo que orgulhosamente guardava – a sua burocracia.
A burocracia é um mal universal hoje em dia, pois se alastrou e invadiu até mesmo as empresas privadas, impondo-se com os seus hábitos, suas esquisitices e suas verossimilhanças incapazes de serem destruídas por funcionários especializados, como no sistema administrativo adotado por todo o Império do Meio.
Os Filhos do Céu conseguiram que seu burocratismo fosse igualado pelo Brasil, com os seus carimbos e os seus despachos à consideração superior . Reconhecemos que o burocratismo é um mal que pesa sobre todas as economias e todas as atividades, e que dependemos mesmo de uma decisão superior, mas não conseguimos debelar a influência dos meios secundários para chegarmos até o posto supremo e decisório, o que resolve toda a embrulhada burocrática.
Ficamos por aqui, dizendo que com burocracia não se faz riqueza; impede-se o desenvolvimento. Convém abatê-la.
Diário do Comércio (SP) 13/9/2007
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