Talvez tenha sido um dos homens mais cultos do Brasil. Com sólidos conhecimentos filosóficos e pedagógicos, o professor Newton Sucupira, que se orgulhava da sua pernambucanidade, prestou relevantes serviços ao país, sobretudo com os seus admiráveis pareceres no histórico e então prestigiado Conselho Federal de Educação. Rivalizava com o professor Valnir Chagas e, com isso, ganhava a educação brasileira, nos anos 60 e 70.
Até hoje, o clássico parecer de Newton Sucupira sobre a pós-graduação faz sentido e serve de referência, num setor em que, felizmente, demos mostras da nossa competência. A ele devemos todos esses fundamentos, enriquecidos pela facilidade com que o mestre desaparecido dominava o idioma alemão, conhecendo os seus grandes autores.
Era uma felicidade com ele conviver. Aprendia-se sempre, como ultimamente ocorria nas reuniões da Academia Brasileira de Educação. Mas, antes, tivemos o prazer de conhecê-lo nas lides do Ministério da Educação, quando dirigia o Departamento de Relações Internacionais. Nessa condição, esteve na Inglaterra, no início da década de 70, para saber pormenores da então criada Open University (Universidade Aberta), a convite do ministro Jarbas Passarinho.
Quando voltou de Londres, no mesmo dia, honrou-nos com um telefonema, afirmando que o ministro desejava criar um grupo de trabalho (o primeiro da história da educação à distância em nosso país) – e que gostaria de contar com a nossa colaboração, o que de fato aconteceu. Foi o princípio da Universidade Aberta do Brasil.
Em outra ocasião, a convite do MEC, pesquisamos na UERJ sobre o ensino por correspondência. O professor Sucupira foi o nosso grande guia,com a firmeza das suas convicções, bem próprias, como afirmou Paulo Elpídio Menezes Neto, do sobrenome que significa "árvore nordestina de galhos fortes, rijos e ásperos."
Ao desenvolver o conceito de educação permanente, como na época preconizava a Unesco, mostrou que a idéia em si mesma não era nova: "Foi preconizada por Platão. Em nível filosófico, a própria idéia de educação enquanto forma de atividade, qualidade inerente ao ser do homem, nos conduz à noção de sua permanência. Justamente porque o homem não constitui jamais um ser completo, mas o conjunto estrutural de possibilidades de atualização contínua, é educável ao longo da sua vida, necessita educar-se, renovar-se incessantemente."
Sucupira foi um grande pensador, afirmando a capacidade do homem de se ultrapassar em toda a idade e em todas as situações. "A socialização dos jovens não é mais um processo fechado e acabado. A Educação Permanente deve ser o meio de integração do homem consigo mesmo e do homem com o seu ambiente."
Daí ser perfeitamente compreensível que amigos e familiares chorem a morte de Newton Sucupira. A sua filha Maria Judith, também educadora, resumiu numa frase a dignidade com que enfrentou as agruras do mundo: "Ele viveu sempre para os outros, por isso foi tão amado."
Folha Dirigida (RJ) 31/8/2007