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História e injustiça

 

Não há lacunas, na história da TVE do Rio de Janeiro. Os fatos se passaram como pudemos testemunhar, na presença de pessoas que a tudo assistiram, como é o caso da professora Maria Eugênia Stein.


Entre 1968 e 1970, por iniciativa do então Secretário de Educação da Guanabara, Gonzaga da Gama Filho, foi instituído um Grupo de Trabalho para tentar obter do governo federal a concessão de um canal exclusivo de educação. Fizemos parte desse GT. Nada se concretizou.


Em 1971, sendo ministro da Educação o senador Jarbas Passarinho, fomos por ele acionados, na Secretaria de Ciência e Tecnologia, que então ocupávamos, para tentar uma negociação com os proprietários da TV Excelsior, canal 2, a fim de que eles trocassem a dívida (então de 15 milhões de cruzeiros) pela cessão do sinal. Não foi possível obter qualquer êxito, pois a família Wallinho Simonsen, com quem estivemos, queria sair do empreendimento ganhando dinheiro. Não era essa a nossa proposta.


Quando comunicamos o fato ao ministro da educação, ele foi taxativo: “Converse com o Avelino Henrique, na Rádio MEC, pois ele está instruído sobre o que deve ser feito.” Em 48 horas, o canal da Excelsior foi lacrado pelo governo, sem qualquer contemplação. Iniciou-se, então, uma discussão interna, entre os ministros da Educação (Jarbas Passarinho) e das Comunicações (Higino Corsetti), sobre qual seria o melhor destino do canal 2. Se deveria ficar com o governo federal ou se passaria ao governo do Estado, na época ocupado por Chagas Freitas, que tinha sido eleito pelo MDB.


A opção do presidente da República foi pela criação da TVE, com vínculo ao MEC. Gilson Amado, na época presidente do que seria a Fundação Roquette Pinto, imediatamente convocou a imprensa (no mesmo dia em que o decreto foi assinado), para informar o que faria do canal que não era dele (ainda). Foi rápido e ousado. Acabou ficando com a TVE, embora a sua parceira, Fundação Konrad Adenauer, que havia doado cerca de 2 milhões de dólares em equipamentos somente para a produção de programas, fosse fortemente contrária à operação de transmissão.


Na época, Gilson Amado tinha a sua Universidade Sem Paredes transmitida pela TV Continental, canal 9, com apoio de uma empresa estrangeira de petróleo que pagava também pela impressão de apostilas. Essa é a verdade dos fatos, sem adornos ou paixões. Aconteceu tudo exatamente assim.


Agora, com apoio da Caixa Econômica e dos Correios, o Ministério das Comunicações deu à luz um trabalho da pesquisadora Liana Milanez, com os títulos “TVE Brasil, cenas de uma história” e “Rádio MEC, herança de um sonho”. Trabalho apressado, cheio de imprecisões históricas, com uma versão fantasiosa sobre as origens da nossa televisão educativa. E grandes omissões no que se refere à emissora de rádio (como no caso da excelente contribuição de Aurélio Buarque de Holanda e outros especialistas ao “Projeto Minerva”). Os livros são bonitos, pena que o conteúdo contenha tantas falhas.


Jornal do Commercio (RJ) 10/8/2007