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Mapa de excelência

 

Com a comparação das notas dos estudantes na Prova Brasil e no Saeb, foi possível ao MEC estabelecer novo indicador de qualidade na nossa educação básica: trata-se do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que naturalmente leva em conta a taxa de aprovação dos alunos.


É uma febre saudável de medições, sujeitas ainda a algum aperfeiçoamento, mas reveladora de que o presidente Lula comentou com propriedade que “o ensino está no fundo do poço”. Consideradas 46 mil escolas públicas, número mais que razoável, a média geral não passou de 3,8, registrando-se excelência em apenas 178 delas (0,3% do total). Uma performance abaixo da crítica. Estamos longe de países desenvolvidos, onde se processa um ensino de qualidade, garantindo no futuro os recursos humanos de que carece cada uma dessas sociedades.


Há discrepâncias nesses dados, mas uma certa lógica, principalmente quando à frente dos estabelecimentos de ensino existe a presença de uma boa diretora, com tudo o que essa expressão possa representar. Veja-se o caso do Ciep Guiomar Gonçalves Neves, do pequeno município de Trajano de Morais, no Rio de Janeiro. Confirmou a sua liderança, numa cidade de 10 mil habitantes, onde existe uma permanente troca de experiências entre alunos, pais e professores. São oito horas de aulas diárias, a biblioteca não é depósito de livros, mas local de pesquisas, além dos laboratórios modernos, inclusive de informática.


O que faz o sucesso de uma escola assim da 1ª à 4ª série? É o conjunto de todos esses fatores, além da vontade férrea da liderança da escola de assegurar ensino de boa qualidade aos alunos. Todos participam desse mutirão, como se fosse um compromisso de toda a cidade. O mesmo ocorre em São Sebastião do Alto, também no Rio de Janeiro, que alcançou o segundo lugar, em outro Ciep.


No segundo segmento (5ª à 8ª), o primeiro lugar ficou com o tradicional Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, bem perto de outro Cap, este da Uerj, agora completando 50 anos de vida. É de novo o tempo integral, bons planos de cursos, atividades integradoras, professores muito interessados, a despeito das reconhecidas dificuldades salariais que um dia serão resolvidas.


As desigualdades brasileiras ficam muito explícitas quando esses dados são colocados na balança. As escolas de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, no conjunto, são as de melhor posição, enquanto as piores estão no interior da Bahia e de Alagoas: têm o Ideb 0,1 as escolas municipais Esfinge (Lauro de Freitas, Bahia) e Monteiro Lobato (Reserva do Iguaçu). Triste realidade de uma injustiça que está longe de ser resolvida ou sequer atenuada. Os exames serão realizados de dois em dois anos.


Com os dados em mão pode-se condenar com veemência os impactos negativos da infra-estrutura existente, com lamentáveis instalações físicas, mas há um dado relativamente alentador: os trabalhadores brasileiros estão mais instruídos, embora ganhando menos. Em cerca de 20 anos a média de estudo dos trabalhadores urbanos aumentou de dois anos e meio, embora isso não tenha representado ganhos salariais. Ao contrário, no período, encolheram 33,6%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).


Monitor Campista (RJ) 23/7/2007