RIO DE JANEIRO - Não foi a imprensa que diagnosticou tão radicalmente a crise atravessada pelo Senado. Foram alguns de seus membros, que estão sofrendo o constrangimento de serem senadores num momento em que dois deles estão sendo acusados não apenas de falta de decoro mas de improbidade.
Sempre é reconfortante ouvir as vozes de Pedro Simon, de Jefferson Peres e, agora, a de Jarbas Vasconcelos, que traz de volta aqueles tempos do antigo MDB, que enfrentou a ditadura durante 21 anos.
Espantosa a insensibilidade de Renan Calheiros diante da crise que ele criou não apenas para o Senado mas para a vida pública nacional. Se é inocente, se tem confiança em sua honestidade pessoal, o caminho que deveria tomar era o licenciamento do cargo que ocupa na mesa diretora da Casa. Ao contrário do que ele alega, seu afastamento, ainda que provisório, da cadeira presidencial não seria a admissão de culpa, mas a isenção que se espera do chefe de um colegiado legislativo.
O "jus esperneandi" que ele está exercendo não apenas prolonga a crise mas a corrompe por dentro, a ponto de se vangloriar da absolvição pelo plenário em caso de votação secreta sobre a cassação de seu mandato.
São expressões fortes as que estão sendo usadas por senadores respeitados pela opinião pública e que chegaram à mídia: o Senado está sangrando, o Senado está fedendo. Até quando?
Pouco a pouco, com o olho voltado para seu interesse na estabilidade de sua base no Congresso, Lula está entrando na crise pelo lado inoportuno. E, mais do que inoportuno, pelo lado errado. Três anos e meio de mandato lhe dão força para cabalar apoios que serão cobrados na devida hora. É por aí que Renan acredita que sairá impune da prevaricação cometida.
Folha de S. Paulo (SP) 1/7/2007