Sensação de descrença que dominou a cidade nos preparativos virou euforia diante do espetáculo de abertura
É cedo, ainda, para cantar vitória e atribuir sucesso integral à organização do Pan-Americano Rio 2007. Os desafios são grandes, manter centenas de atletas e equipes de apoio em seus alojamentos, providenciar deslocamentos nas horas certas, alimentação, segurança, criar condições ideais para a performance técnica de cada modalidade esportiva, toda uma infra-estrutura terá de ser mantida nos cascos até que a pira seja apagada.
Contudo, o sentimento de descrença que dominou a cidade durante os preparativos, mídia e grande parte da população achando que o Rio não ofereceria cenário condizente a um espetáculo de nível internacional, esse sentimento transformou-se em euforia diante da realidade do espetáculo de abertura, na semana passada.
À margem dos resultados técnicos, dos recordes que serão superados e das novas estrelas que surgirão no cenário esportivo das três Américas, uma prova parece que já foi dada e vencida pela cidade, que por sinal atravessa um período deprimente em sua história.
O carioca andava de cabeça baixa, astral em frangalhos, nem mesmo a eleição do Cristo Redentor como maravilha do mundo atenuou seu medo pelas balas perdidas, sua intranqüilidade pessoal, sua depressão pela má qualidade de sua vida urbana.
De repente, a festa. O Maracanã transformado em palco, o único incidente resumido a uma quebra do protocolo que deixou o presidente da República mudo, mas foi salvo por Carlos Arthur Nuzman, que evitou uma vaia maior e vexatória.
São muitos os que, dentro e fora do país, não acreditam na capacidade do Rio em sediar uma Olimpíada. Não faz muito, chegamos a ser finalistas na escolha decisiva, uma comissão de técnicos internacionais examinou nossas possibilidades.
Um grupo de ambientalistas japoneses deu um passeio pela baía da Guanabara, verificou o estado de poluição em que se encontrava (e ainda se encontra), deu um parecer arrasador: "Um povo que não sabe cuidar de um bem da natureza do porte da Guanabara não merece ser escolhido para sediar uma Olimpíada".
O espinho está encravado na carne do carioca. A realização do Pan mostrou sua capacidade para dar a volta por cima. Com a ajuda dos órgãos federais e o apoio da opinião pública nacional, poderemos sanear não só a baía mas outros pontos que estrangulam a nossa paisagem e a estrutura operacional de uma cidade que apresenta tantos pontos negativos.
Se tudo correr bem até o final, poderemos encarar o Pan como ensaio geral para uma festa maior e definitiva.
Folha de S. Paulo (SP) 18/7/2007