RIO DE JANEIRO - Leio nos jornais que Macaé, norte do Estado do Rio, está afundando. É coisa pouca ainda, alguns centímetros por século, mas de forma inapelável. Nada a ver, por ora, com a elevação do nível dos oceanos devida às calotas polares derretidas pelo calor do meio ambiente poluído. É a cidade que afunda por conta própria, mais ou menos como Veneza.
Admito que entre Macaé e Veneza haja algumas diferenças e torço sinceramente para que não desapareçam, tragadas pelas águas. Não posso folgar com a desgraça alheia, morador que sou de uma cidade litorânea que, mais cedo ou mais tarde, terá destino igual.
Não estou alarmado o suficiente para imitar um amigo que mora na avenida Atlântica.
Já comprou um terreno em Friburgo, altitude confiável, mais de mil metros. Ali construirá uma casa que deverá estar pronta antes que o nível do mar se eleve até o segundo andar do edifício onde mora.
Sou péssimo em matéria de cálculos, nem me atrevo a pensar nos muitos séculos que levarão até que o oceano atinja Brasília, no Planalto Central. Quando pensaram em mudar a capital da República para o interior, muitos anos antes de JK, um dos motivos foi exatamente esse: ao nível do mar, a capital oferecia dois perigos, o do ataque marítimo por esquadras inimigas e pela ameaça de maremotos devastadores.
O Rio foi cercado por fortalezas, que hoje são apenas decorativas e ameaçam se transformar em espaços culturais -o que, não parece, mas faz algum sentido.
Quanto à elevação das águas nada foi feito, pelo contrário, aterraram grandes nacos da baía de Guanabara e praias oceânicas, como Copacabana.
Tudo leva a crer que não será para os meus dias a ameaça das águas. Mas gostaria de ver Brasília imitar Macaé.
Folha de S. Paulo (SP) 8/7/2007