RIO DE JANEIRO - Não se trata de um juízo pessoal e definitivo sobre o caso do presidente do Senado. Ele deu explicações abundantes, seus pares aceitaram suas provas e tudo parecia indicar um desfecho honroso que livraria a barra e a cara do parlamentar alagoano.
As comissões do Senado, mesmo quando se trata de uma CPI (não foi esse o caso, pelo menos até agora), não têm poder de polícia nem de Justiça. O mais que podem fazer é encaminhar a questão para instância específica.
Por sua comissão de ética, o Senado examinou a documentação apresentada, mas, sem dispor de meios operacionais e pessoal técnico para apurar a autenticidade dos recibos, faturas e demais provas, aceitou-a como verdadeira. A mídia também não tem poder de polícia nem de Justiça, mas tem o poder e a necessidade de investigar. E a investigação desmentiu a principal fonte de receita apresentada pelo senador.
Não é, ainda, a prova definitiva da improbidade de Renan. Mas a situação em que se encontra -sentado na cadeira de presidente do Senado- não é confortável. Ele está sangrando -e sangrará por muito tempo ainda. Num caso desses, uma licença do cargo deixaria bem não apenas o senador em causa mas o Senado como um todo.
É uma questão de foro íntimo. Os comerciantes de carne bovina que negaram negócios com o criador de gado Renan Calheiros poderão ser trabalhados política e financeiramente, e podem aparecer novos documentos dando razão ao senador. Mas o estrago em sua imagem poderá ficar para sempre.
Para a opinião pública, na melhor das hipóteses, o senador tem uma vida contábil atrapalhada, vende bois superfaturados, acima do preço vigente no mercado. E precisa provar que vendeu realmente bois para garantir o leite do filho de uma gestante.
Folha de S. Paulo (SP) 17/6/2007