Quem teve interesse nos seriados que o cinema levou sobre a polícia federal americana, sabe que os seus quadros, naquele país, são respeitados até mesmo pelos gângsters e pela máfia, tal a responsabilidade que reveste suas ações, num país essencialmente federativo. A polícia federal dos EUA, que foi aqui copiada, precisaria atuar com intensa pedagogia nas salas de Brasília para lecionar aos membros da PF brasileira matéria sobre como agir discreta e rigorosamente ao ser abordado por estranhos aos seus quadros. É sabido, fartamente, que no Brasil ninguém guarda segredo. Aqui, para haver segredo entre duas pessoas é preciso que uma delas morra e que a segunda não tenha a quem contá-lo. Daí que uma polícia federal copiada dos EUA, onde ela é rigorosa em seus rituais, se evapora em sua liturgia para ficar sujeita às investigações de funcionários categorizados e de sua organização.
Essas considerações vêm a propósito da crise que se declarou na Polícia Federal. Essa instituição, na qual tanto confiamos e que tem tido dias brilhantes em sua história, acabou se comprometendo e comprometendo sua discrição no vazamento de notícias que deveriam ser rigorosamente guardadas e que deveriam ser compulsadas apenas por alguns membros da corporação. Tal não se deu. O vazamento foi comprovado e vai alcançar membros ativos da organização, que não souberam guardar segredo do que sabiam e que não deveria ser divulgado.
O País tem necessidade de contar com uma polícia federal nas condições da americana, rigorosa na guarda de seus segredos, inacessível à divulgação do que quer que seja sabido por seus membros, que negam tudo o que sabem e que não divulgam nada do que sabem. A Polícia Federal é uma instituição da mais alta importância para o Brasil, como veio a ser para os EUA, desde quando lá foi instalada. Devemos copiá-los no que têm de bom.
Diário do Comércio (SP) 5/6/2007