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Questões de justiça ou de memória

 

Ainda não temos opinião definitiva sobre um mal que vitima alguns brasileiros. Se eles têm pouca (ou nenhuma) memória sobre fatos históricos ou simplesmente se recusam a fazer justiça, sobretudo quando a ocorrência é recente. Aí entra um pouco de inveja, ciúme e outros ingredientes. Para evitar o fenômeno, a Academia Brasileira de Letras chama os seus membros efetivos de “imortais”. Porque serão sempre lembrados, quando da leitura das efemérides, que se faz toda semana, na Casa de Machado de Assis.


Na vida pública, esse comportamento é quase generalizado. Saiu da nossa cabeça a idéia de construir o Planetário da Gávea. Obtivemos o terreno, graças ao interesse do governador Negrão de Lima, que liberou dois milhões para a Sursan realizar a obra. O prédio se ergue, imponente, ao lado do campus da PUC/RJ. O equipamento foi fornecido pelo MEC, depois de inteligente manobra política, pois o poderoso Zeiss-Jena estava destinado ao Rio Grande do Sul, que receberia dois equipamentos spacemaster ao mesmo tempo. Precisamos reiterar esse dado para as nossas netas, que ouvem, incrédulas, que foi o vovô que teve a idéia de fazer o Planetário, obteve os meios, e inaugurou a obra, em 1970. A Prefeitura, beneficiária do projeto, não toma conhecimento do seu autor.


Agora, o Colégio de Aplicação da UERJ faz 50 anos e programa uma série de festividades. Mais do que justo, pois está em primeiro lugar entre as 20 melhores escolas estaduais do Brasil. É a nona colocada, se incluirmos as escolas federais.


Tudo teve um começo, hoje esmaecido pelo tempo. No ano de 1956, ocupando a presidência do Diretório Acadêmico La-Fayette Cortes, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UDF, fomos muito insistentes, na defesa da necessidade de construir o Colégio de Aplicação, previsto no regimento. Toda vez que se concluía a nossa participação do Conselho Técnico-Administrativo da FFCL, ao final de cada sessão, o diretor Ney Cidade Palmeiro perguntava se o representante dos alunos tinha alguma outra solicitação. Invariavelmente, falávamos no Colégio de Aplicação, uma das nossas promessas de campanha.


Até que um dia, depois da reunião oficial, o diretor pediu licença e não me deu a palavra. Apenas disse: “Hoje, eu é que falo. Para lhe dizer que decidimos construir o Colégio de Aplicação, que terá o nome do professor Fernando Rodrigues da Silveira. Parabéns por sua insistência.” Recebemos a notícia com um nó na garganta.


Ficamos felizes com a escolha do primeiro diretor, que foi o amigo Wilson Choeri. Ele nos indicou para lecionar na cadeira de Desenho Geométrico, na primeira turma da escola, cargo que exerci com muita honra. O projeto pedagógico da escola, de tempo integral, era uma novidade. Entre os nossos primeiros alunos, podemos lembrar a estilista Glorinha Pires Rabello. Era bastante destacada na matéria.


Jornal do Commercio (RJ) 27/4/2007