RIO DE JANEIRO - Generalizou-se um raciocínio aparentemente óbvio: se forças do Exército brasileiro podem e estão policiando cidades, ruas e favelas do Haiti, por que não fazem o mesmo em nossas cidades, ruas e favelas? Tempos atrás, soldados brasileiros também foram policiar a região do Suez, que vivia uma situação difícil, ameaçando até mesmo um conflito mundial.
Acontece que, tanto em Suez como agora no Haiti, como membro da Organização nas Nações Unidas, também conhecida como ONU, o Brasil foi designado para formar a tropa internacional para policiar uma região conflagrada, em estágio de guerra civil. Pensando bem, é o nosso caso atual. A onda de violência e a incapacidade do Estado em normalizar nossa vida doméstica criaram uma situação de guerra civil não declarada, mas existente em nosso dia-a-dia.
Seria o caso de abdicarmos da nossa soberania e apelar para a entidade mundial criada para ajudar países em dificuldade? Aceitar a intervenção de tropas estrangeiras para suprir nossa necessidade de ordem e paz? Pessoalmente, não vou tão longe. Fico pensando na possibilidade de mariners patrulharem a Linha Vermelha. Seria o primeiro passo para forças internacionais tomarem conta da Amazônia, dada a nossa incapacidade de acabar com o desmatamento da maior floresta do mundo.
Haveria uma hipótese dentro da hipótese: membro da ONU, o Brasil poderia ser convocado para combater a violência, o contrabando e o tráfico, não exatamente no Haiti, mas aqui mesmo, dentro de nossas fronteiras.
Não mais prevaleceria o argumento de que as forças armadas não foram feitas para cumprir um papel policial. O Brasil continuaria um país soberano e talvez fôssemos capazes de saber, afinal, onde estão os ossos de Dana de Tefé.
Folha de S. Paulo (SP) 6/3/2007