A cada dia acordamos com novidades a respeito dos excessos cometidos em nossas estradas ou caminhos urbanos onde o perigo está presente, sobretudo no comportamento de jovens em geral bêbados ou drogados. Sem contar os pais irresponsáveis que entregam seus carros a menores de idade, sem receio das conseqüências, muitas vezes trágicas.
Os números são dramáticos. O Brasil assinala o registro de mais de 60 mil mortos no trânsito por ano, nada menos de 165 por dia. O último dado oficial é de 2004, quando morreram mais de 70 mil pessoas em conseqüência de acidentes, com mais de 35 mil vítimas fatais de colisões. Esses faleceram no local do acidente, outros a caminho dos hospitais. Ajuda bastante esse tipo de comportamento a sensação generalizada de impunidade, com a falta reconhecida de guardas e sinais confiáveis. As vítimas mais numerosas encontram-se na faixa etária dos 14 os 26 anos de idade. O Brasil, segundo dados da ONU, está em sexto lugar entre os países onde morre mais gente em acidentes de trânsito. É uma preocupação que extrapola nossas fronteiras.
A cada minuto e meio, um motorista comete uma infração de trânsito fora do Estado onde o seu carro foi licenciado. As multas, em número superior a 2,5 milhões, não educam, pois as causas são mais profundas e esse castigo não surte os efeitos necessários. Conviria pensar também, na análise do problema, no crônico mau estado das estradas federais ou estaduais, como se fosse uma praga da qual não podemos escapar. A operação tapa-buracos foi uma vergonha.
Há um esforço oficial para melhorar essa situação. Criado o Registro Nacional de Infrações de Trânsito (Renainf), chegou-se à conclusão de que temos 42 milhões de carros cadastrados.
A dificuldade maior, no entanto, opera-se na fragilidade da educação para o trânsito. Muitos dos nossos alunos do ensino médio, em virtude do fenômeno da distorção idade-série, têm mais de 18 anos e podem dirigir oficialmente. Aí entra a imaturidade, acompanhada do álcool e das drogas, para provocar acidentes fatais, como têm ocorrido na Lagoa Rodrigo de Freitas (Rio), cujas pistas, em dias de chuva, são naturalmente escorregadias. Andar a mais de 100 km/hora (ou até chegar a 155 km/hora) é atrair o desastre. O que fazer com esses jovens, liberados de forma absurda por seus pais ou responsáveis?
Nas escolas, como disciplina transversal, dá-se educação para o trânsito. Nem todas obedecem a essa recomendação legal, muito menos as secretarias de Educação. Todos afirmam que "é muito importante inocular, no espírito de crianças e jovens, sobretudo estes, o espírito de todas essas regras". É muito bonito do ponto-de-vista teórico, mas pouco se faz, inclusive no interior. Muitas vezes não é por falta de interesse dos professores. A ausência de material é uma constante - e atualizado - para servir de reforço ao aprendizado dessas noções essenciais. E que elas passem a ser obrigatórias nas grades curriculares.
Jornal do Commercio (RJ) 19/1/2007