Os resultados de um estudo sobre os indicadores de desenvolvimento econômico e social do Estado do RJ são apreciáveis
QUANDO ESCREVEMOS um artigo sobre as omissões do "Mapa de Desenvolvimento" elaborado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, houve críticas ao nosso trabalho. Ninguém explicou o que houve, como a ausência de conclusões consistentes sobre cultura, agricultura e educação. Foram utilizados dados de origem duvidosa, mostrando a segunda unidade da Federação com graves equívocos e saltos no seu processo de crescimento. Velhas histórias de esvaziamento econômico, a partir da fusão, vieram à tona, como se fôssemos incapazes de explicar tais fantasmas do cotidiano.
Surgiu, agora, um acreditado documento, "Economia e Gestão", elaborado por profissionais da Fundação Getulio Vargas, que esclarece melhor os indicadores de desenvolvimento econômico e social do Estado do Rio de Janeiro, no período 1997/2006, quando tivemos cinco governadores, de Marcelo Alencar a Rosinha Garotinho, passando por Anthony Garotinho e Benedita da Silva. Um bom e apartidário estudo, com dados do IBGE/Pnad/MEC (Inep). Os resultados são apreciáveis, uma surpresa mesmo, se comparados com os índices nacionais. Analisando os ganhos em educação, para só ficar nessa reconhecida prioridade, podemos anotar os seguintes feitos (com rigorosa isenção): reduziu-se o analfabetismo no Rio de Janeiro para 734 mil pessoas, a terceira menor taxa do Brasil, perdendo apenas para o Distrito Federal e Santa Catarina; a escolaridade passou para 6,6 anos de estudo, enquanto o Brasil está abaixo: 5,6. O Rio de Janeiro só perde para o Distrito Federal. No ensino fundamental, houve, em oito anos, aumento regular no número de matrículas (4,3 milhões) e de professores (240 mil). São 18 alunos por professor, enquanto a média nacional é de 21,8. O que mais cresceu foi a rede estadual de ensino: 1,5 milhão de matrículas e 79 mil professores (aumentos de 31,6% e 34,4%, respectivamente). No ensino médio, considerando-se o período de 1997/2005, a expansão de alunos e professores foi muito expressiva, chegando a 2005 com 606 mil matrículas (crescimento de 109%) e 40 mil professores (crescimento de 106%). Isso sem contar os feitos da Faetec, hoje com 450 mil alunos, trabalhando na capacitação profissional, e do Cederj (Centro de Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro), hoje com 3.268 alunos, considerado pelo MEC como o melhor exemplo brasileiro da aplicação inteligente de EAD. Chegamos ao ensino superior. Houve estagnação no ensino público não estadual. No ensino privado, o número de docentes cresceu 93,8% no mesmo período (de 12,2 mil para 23,7 mil), e a quantidade de matrículas subiu 142,3% (de 148,8 mil para 360,7 mil). Na rede estadual de ensino superior, o número de matrículas manteve-se praticamente estável. Assim pode ser explicada a esperança de melhores dias para o povo fluminense, detentor do segundo maior PIB per capita, perdendo só para o Distrito Federal. Com a entrada em carga das novas plantas industriais nos setores naval, siderúrgico, automobilístico e petroquímico, caracterizando processo ativo de interiorização do desenvolvimento, o Rio, que, hoje, exporta duas vezes mais que a média brasileira, se torna um modelo inteligente de expansão econômica e social, com lastro numa educação de primeira. Erros sistêmicos estão sendo corrigidos e há uma redução no número de repetentes e evadidos, com a clara preocupação de melhorar a qualidade dos cursos de formação de professores, nos quais a modernidade parece ser difícil de se alcançar. Vale a pena referir, nesse processo, que os alunos não são culpados pelas deficiências existentes, nem mesmo diretamente os professores, como é o caso dos 80 mil estaduais, cujo empenho acompanhamos bem de perto. A escola é que está na berlinda, precisando viver novos tempos, mirando exemplos de nações pós-industrializadas e levando em conta um fator que perturba os bons resultados necessários: disciplina. Há uma certa frouxidão, nesse aspecto, sobretudo nas escolas públicas. Na lista das melhores escolas do país, surgem muitas particulares, todas elas com uma programação de controle da disciplina que não tira a liberdade dos alunos, mas age com rigor contra os excessos.
Folha de S. Paulo (SP) 29/12/2006