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Rio, porto de pensamento brasileiro

 

Sou um pernambucano arretado e apaixonado pela terra de Machado de Assis. Ao ser eleito presidente da carioquíssima Academia Brasileira de Letras, meu primeiro pensamento foi o de que os talentos do Nordeste – eu também mereci esta “colher de chá” – sempre mereceram acolhida aqui. A cidade representa uma plataforma permanente de lançamento dos meus conterrâneos.


 


A imagem que guardo da primeira vez que vim ao Rio, com 17 anos, ao sair do então Aeroporto do Galeão, é a da igreja da Penha, encarapitada num outeiro de pedra, no subúrbio da Leopoldina.


 


Tempos depois, já noivo de Maria do Carmo, voltei à cidade com a missão de comprar o enxoval do casamento nas ruas do Centro, as mais chiques da época. Dessa vez, o que me encantou foram as vias, praças, largos, becos e edificações de diferentes períodos que hoje compões o chamado Corredor Cultural. Meu xodó é o Museu Nacional de Belas Artes.


 


Em 1983, quando eu era Secretário Federal de Cultura, quis demonstrar todo o meu carinho por esse histórico pedaço do Rio ao promover a restauração do Paço Imperial, na Praça XV. O monumento arquitetônico foi inteiramente recuperado e devolvido à população para abrigar a produção cultural contemporânea.


 


Hoje, acho que o Rio precisa de projetos que restituam ao Centro sua majestosa expressão. Iniciativas como o Centro de Convenções do MAM, a reforma do Hotel Serrador e as obras de recuperação das igrejas da Matriz e do Carmo têm que ser louvadas.


 


Moro em bairro vizinho ao Centro há mais de 30 anos. Minha casa é o tradicionalíssimo Hotel Glória. Da janela do meu apartamento, contemplo uma de minhas paisagens favoritas: a vista panorâmica da Baía de Guanabara.


 


Meu encanto pela cidade vem de todos os lados. E me orgulho de ocupar a cadeira 26 da Academia, que pertenceu exatamente a Paulo Barreto, o famoso cronista João do Rio. Quando não estou mergulhado na gestão acadêmica, meu programa preferido é visitar feirinhas de antiguidades da Praça XV, da Rua do Lavradio, na Lapa, e da praça Santos Dumont, na Gávea.


 


O Rio sempre foi o porto do pensamento brasileiro. Mesmo aquele que não nasceu aqui se sente carioca. A cidade não rejeita. Ao contrário, é convergente, agregadora. E eu reafirmo o que disse Gilberto Gil: o Rio de Janeiro continua sendo.


 


Revista Carioquice (RJ)