O debate de domingo na Rede Bandeirantes, em que pese a eficiência técnica de sua produção, foi de pasmosa inutilidade política e eleitoral. Se a parte técnica merece elogios, o conteúdo a cargo dos dois presidenciáveis foi de uma mediocridade desoladora.
Temo que os demais debates repitam as mesmas acusações, as mesmas explicações, as mesmas insinuações -a mesmice substituindo o que deveria ser realmente um debate de idéias e de programas.
Não faltarão pesquisas assegurando que Lula foi melhor que Alckmin ou o contrário, Alckmin melhor que Lula. A agressividade de ambos substituiu o raciocínio claro e convincente. Impressionante como Lula citou números estratosféricos de suas realizações, milhões disso ou para isso, milhões de pessoas alimentadas, milhões de empregos distribuídos.
Em todo caso, dentro do clubismo esportivo que cerca a política nos instantes decisivos, como os de agora, se me perguntarem a quem o debate mais favoreceu, eu diria que Alckmin foi beneficiado -não pelas respostas às perguntas que deu e formulou, mas pela sua exposição na mídia que cobriu o debate.
Lula é um animal político mais do que conhecido, amado ou desprezado por uma legião de eleitores. Alckmin é novo, um rosto, uma voz ainda desconhecida para grande parte do eleitorado. Pensando bem, os chamados indecisos já conhecem Lula de sobra e, se continuam indecisos, é porque não pretendem votar nele.
A opção então, é conhecer e avaliar o seu oponente, e é neste particular que os debates favorecerão o candidato tucano, independentemente do conteúdo, das acusações e das defesas que apresentar nas próximas ocasiões.
Lula precisará criar um fato de grande impacto para motivar os indecisos a votar nele.
Folha de São Paulo (São Paulo) 10/10/2006