Uns dias de molho e fiquei sem passar pela praia de Copacabana, que desde a minha infância faz parte do meu itinerário urbano. Ontem, aproveitando a tarde bonita, peguei a avenida Atlântica na direção Leme-Posto Seis.
Fiquei espantado, e mais que espantado, irritado, com a sucessão de tapumes na areia, desfigurando não apenas o desenho da praia, mas dando a impressão de uma favela
Lembro uma crônica de Machado de Assis sobre a baía de Guanabara por ocasião de um melhoramento qualquer que a prefeitura cismou de fazer, se não me engano, ali pela altura da praia do Flamengo. Machado temia ver a baía inteira aterrada, transformada num circo de cavalinhos.
Circo de cavalinhos, no tempo de Machado, seria uma espécie de espaço de lazer e cultura. A crônica foi muito lembrada por ocasião do aterro do Flamengo, que teve o mérito de ser disciplinado por urbanistas e paisagistas, sob a direção inteligente de Carlos Lacerda. Não é o que está acontecendo
Lembro também quando foi ampliada a praia de Copacabana no governo de Negrão de Lima. Alguns tubarões imobiliários apresentaram projetos que construiriam prédios do outro lado da avenida. O preço dos terrenos resultantes daria renda colossal para os cofres do antigo Estado da Guanabara.
Evidente que Negrão de Lima repudiou a idéia, embora alguns órgãos da imprensa a tivessem apoiado. Foi pensando nisso que também lembrei de uma crônica de Rubem Braga: "Ai de ti, Copacabana!".
Folha de São Paulo (São Paulo) 09/10/2006