Este álbum de arte, que acaba de ser editado, tem uma unidade lingüística numa variedade temática, porque abrange desde o espírito da Páscoa, de Alceu, até os escritores do Império e da República, de Secchin, passando pelas Ephemerides brazileiras de Rio Branco, a língua português de Bechara, o Sartre de Cony, o Otto de Lêdo e o narco imperialismo de Jaguaribe.
A idéia inicial de sua edição, de Reinaldo Paes Barreto e Arnaldo Niskier, foi logo aprovada pelo presidente do JB, Nelson Tanure, e Ivan Junqueira. Quando fui convidado para ser o seu consultor, previa massa enorme de trabalho a enfrentar. Mas tive a felicidade de contar com a dedicada cooperação de uma equipe simplesmente maravilhosa: José Carlos Barboza, no projeto institucional; Maria Eugênia Stein, na coordenação editorial; Júlio Heilbron, no projeto gráfico e Maria Celeste Garcia na pesquisa. Foi necessário inicialmente pesquisar e recuperar textos publicados há muitos anos, como os de Rio Branco e Constâncio Alves, em 1891; José Veríssimo, em 1892 e, mais recentemente, Rui, Laet, Aníbal Freire, Múcio Leão e Laudelino, além de Nélida, Vilaça, Tarcísio, Cícero, José Murilo, Venâncio, Arinos, Pitanguy, padre Fernando, Scliar, Ana Maria, Olinto, Portella e Marco Maciel, em 2004, com a idéia fixa de respeitar o estilo de todos eles, na convicção de que, mesmo os mais antigos, são hoje muito atuais.
Foi preciso também escolher somente um dentre dezenas de textos escritos e publicados por Barbosa Lima, Odylo, Sarney, Callado, Castello, Josué, Niskier e Rouanet.
Em prosa ou em verso, no romance ou nos ensaios, na crítica, nos comentários ou nos editoriais, foram respeitadas as características, numa garantia de sua sobrevivência e consolidação, ao longo de tantos anos. Estas são duas instituições centenárias: o JB, fundado por Rodolfo Dantas, no dia 9 de abril de 1891, é apenas seis anos mais velho do que a ABL, fundada por Machado de Assis, no dia 20 de julho de 1987, ambos surgidos nos primeiros e difíceis anos de uma República recém-instalada e ainda claudicante.
Apaixonados e radicais, os seus quadros e as suas redações abrigavam monarquistas e republicanos, levando Joaquim Nabuco, em seu discurso inaugural, a apelar para que concordassem na discordância e Machado a anunciar, também no seu primeiro discurso, sinteticamente, como aliás fazia sempre, e numa frase quase bíblica, o objetivo de, numa Federação política, fazer a unidade literária, na defesa da língua e da literatura nacionais.
Ao longo de mais de um século, o JB e a ABL vêm testemunhando: a chamada República Velha; a Primeira Grande Guerra, de
Durante todos esses anos, o Brasil viveu e sobreviveu a uma perigosa escalada de graves e de sucessivas crises políticas, durante as quais tivemos 19 presidentes da República, além de três premiers: Tancredo, Brochado e Hermes Lima. Tivemos seis constituições: as de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Tivemos sete moedas: o mil-réis, o Cruzeiro, o Cruzeiro Novo, o Cruzado, o Novo Cruzado, a URV e o Real. Tivemos uma inflação de 80% ao mês e de quase 3.000% ao ano. Pergunto: como foi possível sobreviver a tanto descalabro?
Esse panorama brasileiro desfila aos olhos do leito nas 204 páginas desde álbum e nos 67 textos de acadêmicos-jornalistas.
Desde que foram fundados, há tanto tempo, o JB e a ABL enfrentaram problemas e desafios comuns, vencidos graças à obstinação de sua seriedade e à coragem de seus projetos.
Ambos têm mais de cem anos de relevantes serviços prestados à língua, à literatura, à cultura e à inteligência brasileiras.
Assim, em vez de Acadêmicos no Jornal do Brasil, o título desde álbum também poderia ser: jornalistas do JB na Academia.
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 17/06/2006