O Censo Escolar da Educação Básica 2005 mostra um fenômeno que chama a atenção dos educadores: amplia-se o número de matrículas nos cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), ou seja, das pessoas com mais de 18 anos que voltam à escola para completar os 11 anos do ciclo básico, quando não para concluir os oito ou nove anos do ensino fundamental. Na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro temos ampliado essas oportunidades, sobretudo no interior fluminense, para que não fique tanta gente assim fora da escola. Hoje, no Brasil, a EJA atende a quase 3 milhões de estudantes.
Temos debatido o assunto com profissionais do porte de Luís Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE de São Paulo. Sua preocupação abrange a soma dos analfabetos puros e funcionais, que estão na base desse processo e que constituem, verdadeiramente, um poderoso entrave ao nosso desenvolvimento econômico e social. Aí surge o conceito de responsabilidade social das empresas, que se consubstancia nas ações voltadas para a educação.
O CIEE, nos últimos cinco anos, ampliou o número de organizações parceiras na concessão de estágios para estudantes de ensino médio. No país inteiro, o crescimento alcançou mais de 55%. Busca-se beneficiar jovens acima de 16 anos de idade, matriculados no ensino médio e, na maioria, pertencentes a famílias menos favorecidas social e economicamente.
É um incentivo dos mais fortes, conforme testemunho de pais e professores, satisfeitos com os resultados alcançados. Não só os alunos adquirem maturidade, com essas ações, mas um melhor desempenho escolar, o que ampliará as oportunidades de emprego.
Assinala-se um crescimento palpável nas cidades do interior, principalmente no eixo Rio-São Paulo, com a instalação de plantas industriais de grande capacidade de absorção de mão-de-obra qualificada. O embaraço para o crescimento não pode estar na falta de recursos humanos e os jovens perceberam que, estudando, as chances são naturalmente maiores.
Assim, o estágio tornou-se um poderoso instrumento estratégico para esses alunos, que, além do mais, recebem uma remuneração, caracterizada por bolsas-auxílio mensais. A importância desse procedimento é muito grande, pois isso evita que os jovens sejam levados a se retirar da escola, onde está o seu futuro, por pais que necessitam da sua ajuda, por exemplo, nos tempos de colheita, para uma ação episódica. Daí para engrossar a economia informal é um passo que pode associar a ampliação dos números da violência que atinge sobretudo nossas grandes periferias urbanas.
Ninguém pode ter a pretensão de resolver os grandes problemas da educação brasileira com uma ou duas medidas de impacto. Na verdade, nem no intervalo estrito de um mandato presidencial. Mas há que se tomar conhecimento de toda a realidade do setor mais badalado das campanhas e fazer o que for possível para repetir experiências exitosas de países industrializados.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 08/07/2006