Houve tempo em que o Rio de Janeiro, antes da fusão, orgulhava-se de deter o melhor índice médio de instrução do país. O fato era elogiado pelos maiores educadores brasileiros, muitos dos quais viviam aqui mesmo, na Cidade Maravilhosa. Entre eles, Anísio Teixeira, Almeida Jr., Lourenço Filho e Fernando de Azevedo.
Depois, veio um período cinzento, com uma ou outra exceção. Professores mal remunerados e desestimulados, massificação, desinteresse político – e tivemos o decréscimo da posição fluminense, no concerto nacional.
Agora, uma boa notícia nos foi trazida pelo Prova Brasil, um exame conduzido com muita competência pelo Ministério da Educação, abrangendo 3,3 milhões de estudantes brasileiros das quartas e oitavas séries, para análise do desempenho nas matérias língua portuguesa e matemática. Nada por amostra, mas uma avaliação nacional feita em 41 mil escolas de ensino fundamental no país.
Veio a boa surpresa: o Rio de Janeiro voltou consistentemente ao primeiro lugar, para satisfação de pais, professores, alunos e autoridades, que ansiavam por essa conquista. Poderíamos explicitar as nossas razões. Em primeiro lugar, o incentivo da governadora Rosinha Garotinho, quando apoiou a criação do Projeto Nova Escola, que trouxe ao sistema dois grandes benefícios: o estímulo salarial aos professores, por intermédio de gratificações de méritos, e o conseqüente empenho dos mestres. Houve uma positiva reação dos nossos 1,7 milhões de alunos para uma nova e receptiva atitude de interesse pelo aprendizado, nos 92 municípios fluminenses.
Em segundo lugar, um fato que foi bastante realçado: as melhores notas foram obtidas por estudantes do interior. Procurando uma explicação, declaramos que onde há menos atrativos é mais saudável a relação ensino-aprendizagem. Proclamar que isso se traduz num maior entusiasmo de mestres e alunos, somente, seria simplificar o fenômeno. Estaríamos mais perto da verdade se concluíssemos que há maior participação dos pais no interior e, em virtude da menos quantidade de alunos em sala de aula, torna-se mais eficaz o trabalho. Os professores passam a conhecer os alunos pelos nomes. Isso altera a auto-estima.
Em alguns estados, como no Rio, houve um desempenho acima do rendimento nacional. A melhor turma de quarta série, em língua portuguesa, fica em Trajano de Morais. Trata-se do Brizolão Ciep 279 Professora Guiomar Gonçalves, que procura incentivar os alunos com concursos de redação, freqüência à biblioteca e recuperação paralela, como afirma seu diretor Elielton Riguetti. “Todos os nossos professores têm curso superior, para cuidar de 421 alunos. Em matemática, em que ficamos em segundo lugar, trabalha-se com blocos de madeira que representam unidades, dezenas e centenas.”
Outro destaque fluminense é o Colégio Estadual Januário de Toledo Pizza,
As escolas estaduais do Rio de Janeiro, no exame do MEC, obtiveram, na quarta série, em língua portuguesa, as duas melhores colocações (287,5 e 266,23 pontos): Ciep 279 Professora Guiomar Gonçalves Neves e Colégio Estadual Januário de Toledo Pizza. Em matemática, ficamos com o primeiro lugar com o C.E. Januário de Toledo Pizza (288,07 pontos) e o segundo lugar com o Ciep 279 Professora Guiomar Gonçalves Neves (286,54 pontos). O nono e o décimo lugares também são de escolas estaduais: I.E. Manoel Marinho (Volta Redonda) e Colégio de Aplicação da Uerj.
Na oitava série, em português, louve-se, brilharam as escolas públicas federais do Rio de Janeiro: Colégio de Aplicação da Uerj, Colégio Pedro II (Humaitá) e Colégio Pedro II (Centro). Em matemática, destacaram-se as mesmas escolas públicas federais, nos primeiros lugares. É um excelente indício de que é possível realizar um bom trabalho qualitativo nas escolas públicas.
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 12/07/2006