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Aumento do léxico

 

Os descaminhos da política, como ciência do governo da nação pelo Estado, estão oferecendo para os lexicógrafos material de valor menor, mas sempre valioso, na composição dos dicionários. Até há pouco tempo, antes da crise fenomenal que se abateu sobre o Brasil, poucos brasileiros tinham ouvido falar de valerioduto, mensalão, mensalinho, ética que a maioria não sabe definir, e outras palavras que serão incluídas nos léxicos dos futuros estudantes e escribas em geral.


Sabemos, perfeitamente, que deputados e senadores, com raras exceções e de par com políticos sem mandato, são frágeis no idioma que somos obrigados a usar, por ser belo e nos acompanhar há séculos. Quem acompanha as sessões das comissões de inquérito, nos jornais e na televisão, não duvida que está diante de pessoas pouco familiarizadas com o segredo do idioma, ou, mais pedestramente, com as ladeiras do idioma.


Recebendo de um amigo uma edição - com uma bonita encadernação em couro - da réplica de Rui Barbosa, vê-se que hoje seria impossível uma polêmica do grande tribuno para defender a revisão do Código Civil e suspeitar do pouco tempo que seu professor havia tido para essa tarefa. Isto, porém é irrelevante hoje, porque o que nos interessa é o monumento lingüístico chamado réplica, cuja beleza de estilo não teve paralelo depois, como não havia tido antes.


Parece que hoje no espírito dos políticos, e até mesmo de estudantes, a língua é um "vale tudo", em que cada um faz suas pequeninas experiências lingüísticas sem apoio na ciência glótica.


Mas tenhamos paciência, aquilo que está hoje sendo debatido e informado para a opinião pública, restará material para arquivo, pois a substância obtida nas declarações, confissões, nas acusações, vão desaparecer da memória dos brasileiros, e mais ainda na memória dos implicados nos escândalos.




Diário do Comércio (São Paulo) 16/12/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 16/12/2005