Ignorante em economia, leigo em mercado e negócios, nunca entendi por que uma lata de sardinhas da mesma marca e tamanho custa tanto em determinada loja e custa menos ou mais em outra. Já me explicaram. Ou não entendi ou esqueci.
A crise da Varig, por mais que tenha lido a respeito, para mim é mais inacessível do que a teoria quântica e mais confusa do que as explicações de um técnico de futebol quando o time dele leva uma sova.
Na questão da aviação comercial, uma coordenada é inegável: há procura, e procura cada vez maior e universal. O setor que produz penicos e escarradeiras -se acaso ainda existe este setor- deve atravessar dificuldades. Ninguém mais usa esses produtos. Criar abundante oferta de penicos e escarradeiras é jogar dinheiro fora.
No caso do transporte aéreo, a procura tende a ser maior do que a oferta -única lei de mercado que até um despreparado como eu compreende.
No entanto quase todas, se não todas as companhias áreas do mundo, mesmo aquelas cujo maior acionista é o Estado, estão de pires na mão. No caso da Varig, que parece em estado terminal, tem mais de metade de sua frota no chão e as sucessivas administrações não a tiraram do sufoco.
Ela detém boas rotas, o que seria garantia de operações rendosas. Com administração honesta e inteligente, deveria dar lucro suficiente para novos investimentos e ampliação dos serviços. Nada disso aconteceu. Pelo contrário, os acionistas não chegam a um acordo e, em conseqüência, os problemas de gestão se avolumam e tornam-se insolúveis.
Haveria lógica nas dificuldades da Varig se, de repente, todo mundo deixasse de andar de avião, preferisse o carro de boi para ir do Rio a Manaus. Não é o caso. Noventa por cento das falências e concordatas são causadas pela má gestão do negócio. Somente dez por cento ficam por conta dos penicos e escarradeiras
Folha de São Paulo (São Paulo) 17/12/2005