É bem conhecido da classe política o senador Antonio Carlos Magalhães. Suas intervenções a propósito dos males da nossa democracia são sempre comentadas, sua cólera contra inimigos e adversários e suas reações ao que não o agrada também. O senador não tem freios, diz o que pensa, gostem ou não do que ele diz. Evidentemente, o senador tem defeitos.
Direi que o senador, se é um mal, com o que não concordo, é um mal necessário em nossa democracia claudicante, mambembe, usando palavra vulgar como já o classificaram várias vezes alguns despachados políticos.
O senador, em artigo na Folha de S. Paulo , fez críticas muito apropriadas ao governo inorgânico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O artigo não é longo, mas diz o que é preciso dizer num jornal de grande circulação e de grande ascendência sobre a opinião pública.
Evidentemente, correligionários com trânsito no Senado vão procurar o senador para tentar trazê-lo ao aprisco do presidente Lula. Mas será inútil, pois o senador não costuma voltar atrás. Penso que esse artigo vai provocar outros, afinados pelo mesmo tom, pois o que estamos assistindo no plano federal só tem imagem literária numa nau sem rumo.
É lamentável que essa seja a realidade brasileira e nas mãos de um homem que fez uma carreira brilhante, embora, para quem sabia ser provável a sua eleição, lamentavelmente não tenha se preparado e no poder está colhendo a safra espinhosa dessa despreocupação.
Os correligionários, uns poucos letrados, vão tentar uma contestação do artigo do senador Antonio Carlos Magalhães, mas não alcançarão nada, pois o líder baiano é turrão em suas opiniões e não cede quando está convicto da razão do que julgou. Enfim, o artigo do senador vai provocar maré violenta no reduto do lulismo, mais uma no cenário de crise em que braceja o País.
Diário do Comércio (São Paulo) 27/12/2005