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Entre o engenho e a arte

 

Conhecemos Oscar Dias Correa durante o período 1976-1980 em que dirigiu a tradicional Faculdade de Direito do Catete, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Fomos colegas do Conselho Universitário, onde se destacava, como foi constante em tudo o que fez, pela seriedade da sua postura de educador exigente, sem concessões demagógicas. O certo era o certo, os direitos eram para ser sempre respeitados, professores e alunos deveriam ser exemplares, pois estavam operando numa carreira que não poderia trabalhar com dúvidas ou meias verdades.


Esse o homem que sempre respeitamos e do qual tínhamos notícia desde que assumira o cargo de secretário de Educação do governador Magalhães Pinto, em Minas Gerais, no ano de 1961, preocupado com a interiorização do ensino.


Formado em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, lá começou a lecionar economia política e direito do trabalho, estendendo depois suas atividades de magistério para a então Universidade do Brasil (hoje, UFRJ) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em ambas, como brilhante professor titular.


Foi homem público destacado, membro do Supremo Tribunal Federal e ministro de Estado de Justiça do Governo José Sarney. Sempre fez da ética o seu principal mote, não fora ele destacado fundador da União Democrática Nacional (UDN). Conversamos sobre essa epopéia no Cemitério São João Baptista, ao encontrar o ex-governador Rondon Pacheco, também presente, com muita tristeza, ao enterro de Oscar. "Perdi um irmão" - disse-nos ele.


Entrou para a Academia Brasileira em 1989, num pleito aguerrido, como tantos outros por ele enfrentados na sua vida pública de deputado federal por Minas Gerais. Homem reto, de posições claras e de cristalino espírito democrático, destacou-se, na Casa do Convívio, pela adesão à causa acadêmica e pela facilidade no trato com os seus confrades.


Nessa tarefa, justiça se faça, contou com a inexcedível colaboração da companheira e esposa Diva, por nós também amada, sentimento que se estende aos filhos Ângela e Oscar Júnior, bem assim aos demais familiares. Todos educadíssimos.


Nos últimos anos, como fomos testemunhas, Oscar dedicou-se à outra paixão de toda a vida: a literatura. Escreveu contos, traduziu com enorme competência Dante Alighieri. Hoje, como era seu desejo, será lançado o último livro, intitulado "Viagem com Dante". Pediu antes a Diva: "Quero esse lançamento, na Academia, mesmo que me aconteça alguma coisa."


Quis o destino, de decisões imprevistas, que ele morresse ontem cedo. No caixão, na Sala dos Poetas Românticos, Diva se aproximou do corpo inanimado e disse baixinho, perto de onde nos encontrávamos: "Fique tranqüilo. Aqui estão todos os seus amigos." Percebemos a dolorosa cena, para usar a linguagem de Dante. Pareceu, a seguir, ouvir a voz de Deus, ainda na palavra do poeta italiano: "Até aqui te trouxe, com engenho e arte."


Assim viveu, entre nós, Oscar Dias Correa. Deus certamente o acolherá, com ternura e respeito, na vida eterna.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 11/12/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 11/12/2005