O jornalista José Nêumanne pergunta em seu artigo de ontem no jornal O Estado de S. Paulo se vale uma crise pela cassação de José Dirceu. Respondo: não vale a pena.E nem haverá crise, pois o personagem é um arrivista da política, um militante da esquerda clássica, acorrilhada ao fidelismo cubano. É um conhecido militante de identificação democrática duvidosa.
O Brasil tem tido presidentes que deixaram o poder ou que foram coagidos a deixar sem provocar crises graves. Jânio Quadros renunciou e com a renúncia criou um problema, que resultou numa crise, que levou João Goulart ao poder, vetado pelas Forças Armadas e finalmente deposto em 31/03/1964. Getúlio Vargas praticou um bravo gesto heróico, suicidou-se e pôs o País numa crise violenta que, no entanto, foi contornada.
Esses são dois fatos que ilustram o Brasil como um país de fatos consumados, herança do Jeca Heredo , como diria, segundo a sua tese, Leon Deaudet. O fato consumado tem uma força decisiva no Brasil e é sempre o que atua nas crises políticas nascentes, como já se viu várias vezes, como acentuou Rui Barbosa numa conferência sobre o criador do Jeca Tatu, o grande escritor paulista Monteiro Lobato.
Voltando ao caso José Dirceu, que já teve o bafejo do Supremo Tribunal Federal, diremos que deve ser aplicado tranqüilamente a esse político pela Comissão de Ética o que for decido, sem temor de crise grave que não haverá. De resto, está ainda em suspenso a possibilidade de uma cassação efetiva, pois estamos vendo que as cassações não saem como se esperava e como assim deveria ser.
Fiquemos na expectativa de que maior solavanco que já teve a política praticada na Nação não se repetirá. É como respondo à pergunta de José Nêumanne em seu artigo de ontem.
Diário do Comércio (São Paulo) 01/12/2005