Passei em Paris e na Côte d’Azur 15 dias. Fui espairecer com civilização e cultura na mais encantadora das regiões que conheço, onde passei os melhores anos de minha vida. Venho falar de Paris por chegar de lá e dos reencontros entre polícia e populares, a primeira defendendo a ordem e os segundos querendo como, se vê, a desordem.
Paris tem tradição de indocilidade. Em sua história está registrado tudo o que pode ser obra do homem em sociedade, a revolta, a revolução, o regicídio, a barricada, os protestos, os clamores insólitos, as demonstrações de patriotismo, as reações violentas em política, os golpes de estado; enfim, tudo o que é do universo do ser inconformado que é o homem em sociedade. Paris é um microcosmo no qual se agitam, em nossos dias, os franceses e as correntes imigratórias não assimiladas pela maioria do país.
Objetivamente, são os muçulmanos que desejam, obstinadamente, manter o seu status jurídico fundado no Alcorão e não nos princípios de direito nos quais foi erguida a sociedade francesa. Quem conhece a França sabe que o francês não hesita em formar uma frente de luta e partir para ela em defesa de seus interesses, da sua ideologia e do seu esprit de corps . É o que está se passando em Paris nestes últimos dias.
Quando eu lá estive, há pouco tempo, sabia-se que, como dizia o "Barão de Itararé", havia qualquer coisa no ar que não era avião, mas a insatisfação dos franceses com a arremetida dos imigrantes e suas autoridades particulares para impor um estilo de vida que não se compatibiliza com o francês. A situação é grave mas não é ainda incontornável, o que poderá vir a ocorrer em pouco tempo se não for encontrada uma solução.
De nossa parte, gostaríamos que a crise cedesse e Paris voltasse a ser não a cidade revoltada, mas a jóia de arquitetura e urbanismo, que só tem concorrente em São Petersburgo, na antiga Santa Rússia.
Diário do Comércio (São Paulo) 08/11/2005