A crise política que atravessamos está confirmando aquela sovada frase segundo a qual cada um pode, na aldeia global, ser famoso por 15 minutos. Bem verdade que a fama nem sempre equivale a uma glória ou a um heroísmo cívico ou pessoal. Não fui eu quem inventou a palavra "fama" -aliás, não inventei palavra alguma: ela pode gerar o famoso e o famigerado, o que nem sempre dá na mesma.
É espantosa a velocidade com que famosos e famigerados surgem e desaparecem. Basta um exemplo: Roberto Jefferson. Foi ele quem deu o "fiat", o pontapé inicial para a sucessão de escândalos que crescem dia após dia.
Hoje, para citá-lo, é necessário recorrer ao banco de dados, aos arquivos, aos departamentos de pesquisa, ao Google, à biblioteca do Congresso, em Washington, ou à Torre do Tombo, em Lisboa, que guarda alguns dos documentos mais importantes de nossa história.
Se a citação for em livro, exigirá uma nota de pé de página para explicar ao leitor de quem se trata.
Diz o Evangelho que, a cada dia, bastam as suas preocupações. Deveria ter dito: a cada dia, basta o seu vilão, que, obviamente, seria o vilão do dia. No princípio, houve uma espécie de hierarquia, de alto e de baixo clero, no desfile dos vilões produzidos pelos inquéritos oficiais e investigações avulsas. Surgiram casos periféricos, como o da morte do prefeito de Santo André e as suspeitas contra o ex-prefeito de Ribeirão Preto, que congestionaram mais ainda a passarela da fama.
Outro dia, num programa de TV, um sujeito confundiu Delúbio com Delcídio. Isso sem falar nos vilões "hors concours" (Fidel, Chávez, Bush) e em outros que estão em recesso provisório, aguardando a vez para desfilar.
Nisso tudo, quem fica bem é o Paulo Maluf. Faça o que fizer, será sempre um vilão para a mídia. Foi vilão enquanto esteve preso e foi vilão maior quando tomou um chope em Campos do Jordão.
Folha de São Paulo (São Paulo) 09/11/2005