Sofremos, mas insistimos. É antiga a luta pela melhoria das condições de oferta de livros à sociedade brasileira. Primeiro foi uma longa fase de colonialismo cultural. Éramos escravos de obras produzidas na Europa e que influenciaram nossos maiores escritores. Portugal e França se revezaram nessa espécie de imposição, agravada pelo fato de que o Brasil foi proibido, até 1808, de ter suas próprias gráficas.
Depois foi a nossa pobreza. A maior parte do País recebia livros da capital, Rio de Janeiro, até hoje detentor de um grande parque gráfico, rivalizando com São Paulo. A cultura, representada por esse elemento insubstituível, partia do centro para as periferias, movimento nem de todo superado, como pode ser registrado pelo que ocorre nos livros didáticos.
Obras feitas especialmente em São Paulo, com currículos da sua realidade, são espalhadas pelas compras do MEC por todo o País, num fenômeno absurdo de dependência cultural e pouca importância dada às peculiaridades locais.
Enfrentamos ainda a questão do preço do livro. Nossa riqueza é mal distribuída. Existem estados e municípios paupérrimos, que não dispõem de massa crítica de bons autores para oferecer aos meios oficiais - e que possam merecer altas tiragens. Insistimos que os preços de capa são elevados para uma nação emergente e injusta, do ponto de vista da distribuição de renda.
Quando se exemplifica com um estado que nem o Rio de Janeiro, o fenômeno do centralismo está presente. Muitos dos seus 92 municípios ainda sofrem com padrões de renda mínima. Seus prefeitos hoje têm a vontade política de reverter o quadro, como demonstra a Apremerj (Associação dos Prefeitos Municipais do Estado do Rio de Janeiro), sob a liderança de Vicente Guedes.
Esse fato levou-nos a criar, com o apoio da governadora Rosinha Garotinho, o inédito Conselho Estadual de Cultura, com 21 membros. Sua principal atividade, no âmbito da Secretaria Estadual de Cultura, será oferecer a oportunidade de uma distribuição mais democrática de livros para as cidades do interior, além de facilitar a sua produção com autores locais. Funcionará na sede da Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro, sob a competente direção de Ana Lygia Medeiros. Também oferecerá prêmios anuais para autores, ilustradores e distribuidores de livros, sejam eles didáticos ou não.
Queremos estimular o acesso ao livro através desse órgão consultivo, como determina o Decreto 28.398/05, com a formulação de uma competente política pública para o desenvolvimento da área do livro - e do gosto pela leitura. Haverá uma interface com a Secretaria de Estado de Educação, que detém o controle de quase 2 mil escolas, e que não poderia faltar a esses novos tempos que estão sendo anunciados.
Saudamos efusivamente a existência do Consel/RJ, que, dentro da política cultural do Rio de Janeiro, irá colaborar para o aumento do índice per capita de leitura do povo brasileiro. Não pode haver conformação com os atuais dois livros por habitante por ano. O Rio assumiu a liderança dessa reviravolta.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 30/10/2005