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O PT o mesmo e o autêntico

 

Poucas datas parecem mais críticas para o nosso futuro imediato que o da eleição da nova Presidência do PT. O cenário mais provável, há poucos dias, seria o de uma tripartição entre a persistência do Campo Majoritário, a purga dentro do partido pela iniciativa de Tarso Genro e o possível esfacelamento pelas dissidências, à busca de legendas sucessoras. Mediante a acomodação do Presidente interino a tendência dominante já vai à refundação, sem maior mossa, mantendo na chapa as figuras do situacionismo, a partir de José Dirceu. E como fica, diante do mesmo, a reivindicação pelo autêntico PT - à pique de dispersar-se em multifrações?

Neste desenrolar, a atitude padrão parece ser a de Aloísio Mercadante, assumindo francamente o conflito, de par, entretanto, com a caução de permanência, e a expectativa de reassegurar a torna identitária primordial, até a Convenção. Desapareceu a síndrome efetiva, de ruptura imediata, criando-se sim, a partir inclusive das bancadas federais e a afirmação de um estado de rebeldia à disciplina partidária, sem entretanto chegar à desfiliação. Cristovam Buarque epitomizou esta atitude de descarte, como ainda limitada pelo afeto ao partido, fiel à ressonância de sua convocação original.


O peso do corpus histórico - da sua coesão continuada - já diz, de si, da diferença do PT frente às demais legendas. É o que se manifestou desde as ameaças de Heloisa Helena que só levou ao seu lado Luciana Genro, Baba e Fontes, na primeira proposta deste radicalismo que proscreveu, de princípio, qualquer retirada espontânea da legenda. Foi a partir do precedente inédito na história política brasileira recente - fora de cassações impostas pela legislação eleitoral - que o grupo viu-se expressamente excluído por somatório de votos e levado a constituição do P-SOL. O partido, ao longo de toda sua história tem um perfil de pouquíssima desfiliação, na extrema cautela das dissidências, ora reforçada em passar, de fato, à mingua das oposições e do jejum de poder.


A primeira crucial disputa de eleições, como a do dia 18, caracteriza-se, por aí mesmo, por todo este pulalar da esquerda petista nos questionamentos da pureza doutrinária; do reclamo socialista, da nostalgia de fundação, ou de seu arranco comunitário. A este faccionalismo desatado se contrapõe um denominador único do Campo Majoritário, num bloco como que intransitivo, fortalecido pela manopla das campanhas eleitorais. Exposto ao escândalo, não obstante, parece se recompor na candidatura Berzoini.


Excesso do Partidos dos Trabalhadores


Mas as vias pragmáticas têm, por sua vez, um risco no quanto impõem ao partido esta dialética entre vigência e reconhecimento crescente e interno da sua coesão. O PT viveu deste excesso, aluvial, da vitória avançada sob o signo dos resultados, ainda exasperado pelo teor publicitário do "Lulinha paz e amor", comprometendo a mensagem da mudança, como sinal da diferença. É hoje, diante da crise, num caráter absolutamente retroativo, e não prospectivo, que põe-se à prova a busca da pureza política. A identidade se dissocia nesta procura do último rigor. Sobretudo quando é uma radicalidade a priori que se vai reclamar para o trabalho de renovação. Na mesma toada, os esforços desse tipo não só se multidividem, senão se anulam em soma algébrica. Propõem-se, narcisisticamente, às retomadas de caminho "dure o que durar", tal como corte-se o que for na carne, doa o que doer, nesta afirmação do binômio ética e poder, em que se enrijece, de princípio as formações ingênuas de ambição programática.


O rebentar agora, reprimido e tardio, dessas dissidências, não leva a qualquer fusão de ingressos em correntes análogas. Não há, no petismo, identidade por aproximações, mormente quando na própria ruptura que façam com a situação desaparece, inclusive, o argumento dos aliancismos para a mudança, sobre o qual se definiu a estratégia do Presidencialismo de coalizão proposto por José Dirceu. A perspectiva, de saída, pois, mais provável é a da floração das alas mais persistentes na sua radicalidade, em legendas rivais, a competir de imediato por uma ascendência sem concessão e meio de caminho e jogando até na importância do diferencial mínimo para, de fato, garantir de saída a promessa da restauração da autenticidade. Neste entrejogo inicial, à sombra do abate da macrolegenda não é, pois, também provável que a mecânica da purga mantenha o tronco de sua força, como se reflorisse num PTdoB.


Não será provável, à primeira vista, que a legenda apenas depurada dos suspeitos, e julgados pela corrupção hoje apontada, saia das suas próximas eleições como um partido de porte próximo ao que comanda o processo político brasileiro desde 2003. Surpreendentemente, entretanto, uma contra lógica a este cenário começa a emergir, nestes últimos dias. E a candidatura de Plínio Sampaio surge como a realpolitk dos puros - no sentido de efetivamente impedir o esfarinhamento previsto, em todos estes questionamentos inevitáveis, à busca da sobrevivência, in extremis, da diferença.


Somam-se no pretendente que desponta as credenciais da transparência ética às da plataforma política da agremiação e defensora desde sempre da alternativa socialista. Esta multitrajetória parece rumar para a polarização, em cima da hora, de um PT que não queira acabar numa multidão de legendas nanicas. E passa por Plínio, neste momento, a capacidade de responder à última lógica do PT: a sua verdade histórica pede um eixo político que não se mutile pelo moralismo e responda a Lula e ao mandato do Brasil dos desmunidos que o investiu, sem réplica nem sucedâneo.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 09/09/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 09/09/2005