O camarada entrou no táxi e ordenou ao motorista: "Depressa! Siga aquele carro antes que ele nos siga!". Pelo título que dei à crônica, ela seria mais uma das milhares que estão sendo produzidas pela mídia a propósito da crise de escândalos na vida nacional.
Nada disso. É sobre a máfia mesmo. Mexendo em velhos papéis, descobri uma página do Leon Eliachar, um cairota (nascido no Cairo) que veio para o Rio aos dois anos de idade e aqui exerceu a profissão de humorista em livros, jornais e revistas. Morreu há uns dez anos, assassinado "in loco", literalmente com a mão na botija, por um marido ciumento que o surpreendeu transando com a mulher. (A mão e a botija, neste caso, são metafóricas).
Nas considerações feitas pelo Leon sobre a Máfia, há achados que poderiam ser aplicados a qualquer tipo de máfia. Cito algumas:
1) Na Máfia, o cara vivo é o que consegue ficar vivo mais tempo;
2) Na Máfia, ninguém perde a cabeça, perde o corpo todo (ou o mandato);
3) As mortes provocadas pela Máfia ficam misteriosas porque todas as testemunhas desaparecem misteriosamente (evidentemente não é o caso do ex-prefeito de Santo André);
4) A Máfia é contra a pena de morte: ela mata sem pena;
5) Na Máfia, é natural que ninguém morra de morte natural;
6) Precisa-se de capangas assessores: quanto piores as referências, melhor;
7) Guarda-costas eficiente é o que só leva tiros na barriga.
Leon Eliachar falava da Máfia mesmo, a própria, sem qualquer alusão à política nacional, que, no tempo dele, já não era tão diferente assim da atual. Mas há uma preciosidade em suas considerações que é a mais importante e letal de todas: "Ninguém sabe quem é o chefão da Máfia... nem ele".
Esta última é de uma atualidade escancarada. Ou, para usar a palavra que está na moda, é de uma transparência dolorosa.
Folha de São Paulo (São Paulo) 20/09/2005