Não é data redonda, mas são 49 anos daquele 5 de agosto que iniciaria a maior crise política do Brasil, com a morte do major Vaz na rua Tonelero, a qual, 19 dias mais tarde, provocaria o suicídio do presidente Getúlio Vargas.
Historicamente, é admitida a tese de que a crise de agosto de 1954 seria o embrião do movimento de dez anos depois, que inaugurou o regime autoritário presidido pelos militares. Houve o intervalo dos Anos Dourados, de 1956 a 1961, mas os elementos de discórdia nacional ficaram na geladeira e foram requentados no microondas das reformas pretendidas pelo governo de João Goulart.
Já lembrei, em crônicas anteriores, o clima reformista do governo deposto pelo golpe de 64. Não estou insinuando nada, tampouco chorando pelo leite derramado. Mas as reformas daquele período eram realmente institucionais, mexiam com o estatuto da terra, a remessa de lucros, a concentração de renda, a soberania nacional ameaçada pelos trustes de dentro e de fora do País.
Não eram reformas como as que agora o Governo está promovendo, que mexe apenas na contabilidade oficial, tentando equilibrar orçamentos, no deve-e-haver próprio dos guarda-livros zelosos, que terminam aqueles imensos balanços preocupados até com os míseros centavos - em orçamentos de bilhões - que devem ser os mesmos na receita e na despesa.
Evidente que não se pode desdenhar a contabilidade da previdência falida, a injustiça e o absurdo do fisco, as deformações da legislação política e eleitoral. São reformas importantes e necessárias, mas que não justificam a estagnação do País em todas as frentes e fundos.
Nas vésperas de seu suicídio, Vargas inaugurou uma siderúrgica em Minas Gerais. A crise política roncava feia e forte, mas o País continuava indo para a frente.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 05/08/2003