Quando se cria uma escola, por exemplo, de ensino médio, antes mesmo da formatação arquitetônica, é preciso pensar na sua alma. Ela se reflete na figura do aluno, que lhe dará vida e personalidade, juntamente com o que se espera do professor, na composição do corpo docente.
Elevando os níveis de exigência, o que se pode apresentar como características essenciais do aluno ideal ou próximo do ideal? Cada estabelecimento de ensino tem a sua missão, os seus objetivos. Hoje, nenhum deles pode se dissociar da qualidade, como fator fundamental da relação ensino-aprendizagem. É a meta a ser buscada, tanto faz a escola ser diurna quanto noturna. Como explicar à sociedade que alunos do ensino noturno, exaustos de jornadas em geral cansativas de trabalho, estudem menos horas e tenham limitado o seu acesso a equipamentos como laboratórios, bibliotecas e computadores? É comum que tais elementos não estejam disponíveis à noite, entre outras razões alegadas por questões de segurança. Não dá para acreditar.
Em termos de avaliação, o procedimento aconselhável não passa necessariamente só por notas ou conceitos anteriores. Esta é apenas uma referência. Albert Einstein foi um péssimo aluno de ensino médio, com notas baixas em matemática, mas trazia em si o germe da genialidade que deu como maior conseqüência a criação da teoria da relatividade. Se tivesse sido avaliado somente pelas notas, o mundo poderia ter perdido uma das maiores figuras da ciência da todos os tempos.
Cadeias produtivas
O aluno precisa de aptidão para trabalhar na produção, desenvolvendo ações tanto no campo humanístico quanto na área tecnológica, para promover o necessário crescimento. Assim, na sua região, será elemento-chave das cadeias produtivas predominantes, que necessitam da sua boa e atualizada formação profissional. Ou viveremos eternamente dependendo da ciência e da tecnologia de fora? Daí a preocupação de capacitar trabalhadores que estejam aptos para atuar em suas respectivas regiões e, se necessário, em todo o País.
Dessa forma, o aluno deve ter bons princípios de organização e disciplina, iniciativa, espírito aberto às inovações, respeito à missão e objetivos da escola, além de acentuado grau de criatividade. Deve ser uma pessoa dotada de solidariedade, participativa, o que já se pode revelar aos 15 anos de idade, através de testes adequados. Deve ser também crítico e empreendedor.
A ambição precisa ser limitada e a vaidade, comedida. O espírito de curiosidade é muito importante, pois assim serão sempre buscados novos conhecimentos, de que o mundo pós-moderno é pródigo. Um indivíduo acomodado dificilmente acompanhará as pegadas do progresso. Outra qualidade de relevo é o gosto pela leitura, para o uso conveniente dos recursos existentes em bibliotecas atualizadas e com características inteligentes. O amálgama desses elementos, em maior ou menor escala, poderá oferecer ao sistema um indivíduo plenamente apto a ser o elo essencial desta ambicionada cadeia escolar.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 25/09/2005