Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > As grandes vitórias

As grandes vitórias

 

A parcial vitória do Governo na aprovação da reforma tributária está sendo comparada a uma dessas conquistas definitivas de um grupo sobre outro, de um exército sobre outro. De repente, o Palácio do Planalto virou um ninho que abriga os novos Alexandres, os novos Césares, os novos Napoleões: vencem todas - ou quase todas.


A queda de braço foi realmente vencida por um dos lados mas naquela base. Não houve persuasão, mas pressão, conchavo, fisiologismo. A maioria dos deputados, na base dos 80%, nem sabe exatamente o que foi votado e aprovado. Foram levados na enchente das lideranças, dos acordos feitos na pressa do tempo e na penumbra da madrugada. Dora Kramer escreveu, no último domingo, que os deputados "nem às paredes confessam que não tinham a mais pálida idéia a respeito do que faziam".


Não tenho competência fiscal nem qualquer outro tipo de competência para elogiar ou condenar o que resultou da reforma tributária em seu atual estágio. Evidente que é medida necessária, como outras reformas que o governo prometeu e vai adiando indefinidamente, como a agrária, a política e outras.


Peritos em reuniões, assembléias, esquemas de obter maioria em momentos de votação, os principais líderes do PT revelam-se profissionais no setor. São e serão capazes de, em quatro, oito ou duzentos anos, alterar todas as leis e práticas do País, em busca de um Estado ideal que será sucessivamente empurrado com a barriga, até chegar à perfeição absoluta.


A mesma perícia que demonstra em assembléias, conchavos e reuniões salvadoras - herança romântica dos tempos em que era oposição - não se estende ao puro e necessário dever de criar um país desenvolvido. Fazer obras, promover o decantado "espetáculo do crescimento", ficará sempre para mais tarde, quando a máquina política e administrativa do País atingir a mirabolante perfeição absoluta. E aí nada mais haverá para fazer.


 


Jornal do Comercio (Rio de Janeiro - RJ) em 16/09/2003

Jornal do Comercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 16/09/2003