Está completando 80 anos o influente jornal do Rio de Janeiro, O Globo. Fundado por Irineu Marinho, respeitável jornalista, na antiga capital federal, em pouco tempo passou à direção de seu filho primogênito Roberto Marinho. Este foi uma revelação, por ter assumido a direção do jornal elevando-o à situação altamente louvável de um dos mais importantes órgãos de imprensa do País, durante todo o curso dessa venerável idade longeva para qualquer empresa no Brasil, sobretudo na faixa da imprensa.
Nesse longo período de tempo não poucos jornais deixaram de circular, enquanto O Globo continuava e continua como um dos mais prestigiosos jornais do Brasil.
Quem conhece a imprensa e, em geral, os órgãos de comunicação, sabe que são esses de grande risco. Pois se "la donna é mobillle", o jornal, o rádio e a televisão são mais do que ela. Quem dirige jornal, ou televisão ou rádio, este menos do que os dois outros, não ignora o esforço físico, mental e temperamental que exige de quem os explora. Era essa a opinião de Roberto Marinho, não deixa de sê-lo de Ruy Mesquita e de Octavio Frias de Oliveira, e de outros diretores de jornais no País. Na era das massas, cujo advento o filósofo Ortega y Gasset denunciou num livro precursor, "La rebelion de las massas", o leitor de jornal, o telespectador e o ouvinte de rádio passam, com freqüência, de um para outro órgão, a receita cai, a crise envolve o administrador e os sócios, e temos as dificuldades se introduzindo na empresa, não raro para o seu desaparecimento, como tem ocorrido no Brasil e em outros países.
Infelizmente, para os diretores de jornais e para seus proprietários, não vemos, embora com longa experiência jornalística, uma nova era para órgãos de comunicação. A Bolsa de Valores ainda não apregoa títulos de jornais, rádios e televisões.
O investidor tem preferido outros papéis de renda do que aplicar recursos nesse setor. Fui ligado, durante algum tempo, a um dos mais e mais conceituados agentes financeiros de São Paulo, e não tenho lembrança de seu interesse pelos órgãos que têm o dever de informar. Estes se mantêm com a publicidade, que tem sido inconstante na contabilidade das empresas. Os oitenta anos de O Globo são, portanto, ilustradores de um ramo de atividade que depende de empresários bem compenetrados de suas obrigações. Conheci muito bem o jornalista Roberto Marinho, pois fomos confrades na Academia Brasileira de Letras, e posso afirmar que o juízo aqui exposto sobre órgãos e comunicação foi o seu, nos longos anos em que esteve sempre à testa de seu jornal e de sua rede de televisão.
É, pois, com minha admiração que saúdo o grande órgão do Rio de Janeiro e com a afetividade do profissional de mais de 60 anos no ramo, que lhe dou o abraço póstumo e o estendo a seus filhos e irmãos vivo e morto.
Diário do Comércio (São Paulo) 01/08/2005