São vários os projetos em curso para a valorização do gosto pela leitura. Temos o consagrado "Leia Brasil", com os seus dezesseis caminhões espalhados por diversos municípios brasileiros de seis Estados; existe o "Paixão de Ler", que foi lançado neste ano na Academia Brasileira de Letras, com o ator Paulo Betti interpretando Machado de Assis de forma admirável; há o trabalho que é feito pelo "Jornal de Letras" em termos de circulação; tem o projeto "Hora da Leitura", criado pelo governo do Rio, para todas as 2.500 escolas estaduais, e agora tomamos conhecimento do "Leia Mais".
De que se trata ? É um projeto que se desenvolve há três anos no Colégio Mackenzie, de Brasília. Há meninos e meninas, da 5ª a 8ª série, que chegam a ler 60 livros por ano, tamanho o interesse despertado pela ação dos professores e especialistas da escola. É o caso da Professora de Português, Cátia Regina Martins, de 28 anos. Segundo ela, não se deve forçar ninguém à leitura. Os alunos têm liberdade na escolha da obra e ficam com a boa emoção de que toda essa operação constitui um prazer.
Converso com o meu amigo Cláudio Mendonça, que trabalha para o governo do Rio de Janeiro. Ele cuida da instalação de algumas bibliotecas públicas e do acervo bibliográfico destinado à escolas públicas da Baixada Fluminense. Está muito esperançoso de que possa criar um clima favorável à leitura, nas regiões mais pobres do Estado, onde a miséria produz efeitos devastadores.
Voltando ao Colégio Mackenzie, de Brasília, pode-se afirmar que se trata de uma notável experiência somente possível em escolas particulares, por causa do poder aquisitivo. A professora de Língua Portuguesa, no início do ano, faz a lista do material a ser adquirido pelos pais e sempre inclui uma relação de oito livros a serem comprados. Cada aluno compra oito - e todos os livros fazem parte de uma minibiblioteca que fica à disposição da turma. Há um aluno encarregado de listar as obras e os empréstimos feitos.
Os resultados têm sido excepcionais, na motivação da garotada do segundo segmento do ensino fundamental. Cada turma tem cerca de 200 livros à disposição dos alunos (por ano). Assim, existe uma boa oferta de autores nacionais e estrangeiros, com predominância dos primeiros, existindo também um forte intercâmbio entre eles. Os alunos explicam ao restante da turma o que de melhor havia na obra lida e se o trabalho desperta uma grande motivação eles ganham pontos extras. Sem dúvida, uma forma inteligente e prática de estimular o gosto pela leitura. Merece aplausos.
Diário do Comércio - São Paulo - SP, 21/01/2000