A situação dos que se formam, em qualquer nível de ensino, é das mais delicadas. A crise de empregabilidade pegou o país em cheio, não discriminando se o formando completou o ensino médio ou o ensino superior. Assim, os casos apresentados na televisão, que chocam a população, estão se tornando cada vez mais comuns. O engenheiro dos sucos é um emblema da situação. Ele jogou fora cinco anos de estudos na Faculdade de Engenharia, para faturar na venda dos seus produtos deliciosos. Pelo menos assim não morre de fome. Outro caso sintomático aconteceu na Academia Brasileira de Letras.
Sob o patrocínio do Centro de Integração Empresa-Escola, de São Paulo, promovemos um concurso nacional de redação sobre o futuro do Brasil. O prêmio ganhou o nome do Professor Alceu Amoroso Lima. Houve quase 200 inscrições e o vencedor foi o jovem pernambucano Washington Gurgel.
Ao discursar na ABL, muito aplaudido, ele traçou o perfil de uma situação que se tornou comum em nosso País. “Tenho 25 anos, 18 deles como estudante. Estudei sempre em escola pública. No meu primeiro vestibular fui aprovado. Durante a vida acadêmica me preparei. Trabalhei nas três maiores emissoras de TV do País com retransmissoras no Recife: Globo, SBT e Bandeirantes. Passei também pela maior assessoria de imprensa do Estado e pelo Suplemento Cultural que é um importante jornal encartado no Diário Oficial pernambucano. Ao todo foram três anos estagiando em um curso com duração de quatro anos. Ainda recebi o maravilhoso presente de conquistar o primeiro lugar neste concurso. Apesr de tudo isso... não se espantem. Apesar de tudo isso, eu estou desempregado”.
O jovem Washington não perdeu a esperança de melhores dias. Não quer ser motorista de táxi, abandonando o campo da notícia. Não deseja também somente apontar culpados. Prefere arregaçar as mangas e ajudar o Brasil a não ser apenas o País do Futuro.
Mas que as coisas estão cada vez mais difíceis, não há a dúvida. No caso da comunicação, cresce o número de emissoras a cabo, mas não existe o correspondente aumento de profissionais da área. Compram-se filmes de forma avassaladora, o mesmo acontecendo com programas importados de qualidade mais que discutível. Com isso, onde ficam os nossos jovens sequiosos de uma oportunidade para demonstrar o seu talento?
Conversamos longamente com o escritor Luís Gonzaga Bertelli sobre o significado do atual momento vivido pelo Brasil. Ele, que tem dificuldade para obter estágio para milhares de jovens universitários, concorda que se trata de um problema estratégico de grande relevo, a merecer das autoridades federais uma urgente providência. Hoje, há um grave desperdício dos nossos melhores recursos humanos. Esse tempo perdido é irrecuperável. É preciso encontrar uma solução.
A Gazeta - Vitória - ES, 30/04/2001
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