Foi noticiado, recentemente, o recorde de reprovação na seccional paulista da OAB. Dentre os 20.237 candidatos (advogados formados - bacharéis em Direito) o índice de reprovação foi de 92.8% apenas 1.450 conseguiram aprovação. O Dr. Luiz Flávio Borges D´Urso, presidente da OAB/SP acha que "há pessoas que chegam à prova e não sabem conjugar verbos ou colocar as palavras no plural", recomendando que "é preciso reagir". Concordamos inteiramente com ele. Muitos comunicadores, até renomados, com a desculpa de modernidade, erram à vontade, como acontece com freqüência na CPI dos Correios. Pensamos, até, para ficar na moda, que se poderia criar a CPI da Língua Portuguesa. Os erros mais escandalosos seriam punidos com multas e até prisões, com leituras obrigatórias, como um dia pensou o deputado Rebelo.
Cibernética
Os jovens estão às voltas com uma novidade cibernética: a linguagem icq, sigla da expressão inglesa "I seek you". Acham eles que o icq é "um barato", às vezes ficam horas conversando com colegas, amigos e até professores, perdendo-se no horário, ficam até depois da meia-noite nesse exercício de comunicação, perdendo horas de sono. O "eu procuro você" nasceu no Estado de Israel, provavelmente por motivos locais. Nós adotamos e, se for como brincadeira, tudo bem. Mas trocar pelo livro, que é notoriamente um instrumento insubstituível de cultura, francamente, nem pensar. Precisa-se fazer a diferença entre o que é linguagem popular e o que é norma culta. Se os jovens tomarem consciência dessa necessidade, separando o joio do trigo, o icq valerá como curiosidade. Mas se for permanente e substitutivo da nossa língua inculta e bela, estaremos perdidos. Não se pode defender a existência de uma separação lingüística, dividindo o falar do rico e do pobre. Temos uma realidade plurilingüística, considerando-se basicamente que a norma culta deve ser respeitada sobretudo nos códigos escritos. Está em funcionamento, em Brasília o Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, que hoje presido com muita honra. A ele incumbe zelar, como órgão auxiliar do Senado, pelas questões normativas que se referem à radiodifusão e às telecomunicações brasileiras. O nosso pensamento é levar o CCS a valorizar a língua portuguesa. Por que, por exemplo, não estimular a realização de programas de rádio e TV que abordem tal problema, de suma gravidade para a nossa cultura? Se vem aí a nova Lei de Comunicação Eletrônica de Massa, incluindo outras mídias, devemos estar atentos ao que se chama de "cadeia de valor da comunicação social". A entrada de grandes grupos internacionais na produção de conteúdos de informação e entretenimento suscita uma discussão de relevo indiscutível. O povo brasileiro, em geral, faz questão de acertar, o que lhe falta é o acesso ao conhecimento. O rádio e a TV, às vezes, dão contribuições negativas, quando repórteres e atores falam errado, esquecendo as concordâncias nominal e verbal. E a questão da regência verbal? Continua-se a dizer em alto e bom som nas novelas: "eu lhe amo". Regionalismos à parte, consideramos inaceitável.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 08/08/2005