Aperta-se cada vez mais o cerco em torno do presidente da República. Embora denúncia nenhuma tenha chegado até Lula, há um consenso nacional de que ele de alguma forma sabia do mensalão. Não ficou definido, ainda, o grau do conhecimento, apenas isso.
Um caso para impedimento? Acho que não, a menos que apareçam fatos novos. Mas a opinião pública está sendo preparada para descartar o presidente de qualquer forma, seja por renúncia ou por impeachment. É curiosa a maneira como o savanarola de Petrópolis provoca os gritos de "Mata! Esfola!" dentro das CPIs que apuram os escândalos. Severamente interrogado, pressionado com palavras duras a admitir a culpa de Lula, o deputado faz questão de colocar o presidente num pedestal, põe a mão no fogo por ele, chama-o de "estadista" um exagero que causa pasmo e irritação no plenário e na mídia.
Tenho a impressão de que Roberto Jefferson entoa louvores rasgados a Lula para provocar a onda de protestos e suspeitas contra o presidente. Todos se sentem obrigados a desmentir o deputado que acusa todo mundo, acusa o governo como um todo, mas faz questão de colocar o presidente numa redoma, oferecendo-a às pedradas da opinião dominante nas CPIs.
Embora negando que está sendo pautada pelo savanarola do Piabanha (é o rio que banha Petrópolis), a mídia cai na mesma esparrela, esculhamba o deputado que não admite o envolvimento de Lula no esquema da corrupção.
É uma pena. Como presidente da República, Lula foi e é um desastre político e administrativo. Realmente, não estava preparado para o cargo, não por falta de escolaridade e status social. Ele funciona bem como chefe da nação, representando-a com dignidade e simpatia pessoal, sobretudo em suas viagens ao exterior e em momentos de normalidade aqui dentro. Mas o regime não é parlamentarista. Como chefe de governo, é uma calamidade. Mesmo assim, torço para que ele dê a volta por cima.
Folha de São Paulo (São Paulo) 09/08/2005