Nada a ver com Castro Alves e suas "Espumas Flutuantes". As espumas que contam (ou não contam conforme o caso) são provocadas não por uma mas por três CPIs que estão batendo simultaneamente em nossas costas, nem sempre protegidas por muralhas de pedra e indiferença.
Sempre haverá qualquer coisa, além do que já houve. A parte mais visível da ressaca - as espumas propriamente ditas - já cumpriu o seu papel de espum a: vieram à superfície, foram fotografadas e analisadas de vários ângulos e logo serão superadas por novas espumas no vaivém da nossa história política.
O que importa é que as espumas não nascem do nada. Elas são produzidas no fundo da nossa sociedade. O fluxo e refluxo das marés, a força dos ventos -e elas começam a ferver, parecem sempre as mesmas, embora durem o espaço de espuma. E continuamente renovadas por embates entre o mar e a rocha, a vida pública e a vida nossa de cada dia.
Passando do mar, cujos limites sempre terminam em espuma, para o equipamento das nossas cozinhas, ao lado dos garfos, das conchas e facões, há também a espumadeira, que em alguns casos retira aquilo que excede dos ingredientes que estão na panela.
Um olhar panorâmico, uma grande-angular sobre a realidade que nos cerca, incluiria a avalanche de espuma que chega à praia, marcando o limite das profundezas que não vemos nem registramos em nossas lentes, incapazes de abocanhar o lixo submerso do qual emergem as espumas.
(Desconfio que nunca em minha vida profissional apelei para tamanhas e tão prosaicas metáforas. Em todo o caso, já começo a sentir fadiga de tanta espuma. E apelar para a metáfora, se aborrece o leitor, de alguma forma me distrai. Nos últimos dias, após cada sessão das CPIs, leio atentamente o Eclesiastes procurando entender o que não entendo.
Folha de São Paulo (São Paulo) 10/08/2005