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Sonho provável

 

Quem subiu da pobreza de retirantes e de paus-de-arara, como é o caso de Lula, e chegou a presidente da República impressionando o mundo, ao menos do mundo bem informado, vai se crer predestinado, embora não tenha nem noção primária do que é a predestinação.


Esse dom foi debatido durante séculos pelos dominicanos de um lado e pelos jesuítas de outro. Afinal, um dos papas pôs-lhe um termo, e não mais foi debatido o dom que teria nos dado à pessoa humana que fosse escolhida a predestinação.


Como sou antigo aluno dos padres da Companhia, fico-me com o livre arbítrio, mas não deixo de crer que há um mistério na vida ao qual foi atribuído esse fascinante nome de predestinação.


Conheci, na minha vida profissional, vários indivíduos que se julgaram mal, uns acabando mal, outros nem mal nem bem, e assim não se cogitou da disputa entre ordens religiosas.


Mas há indivíduos que crêem na própria predestinação, ainda que não saibam o que se deve entender por esse vocábulo. Com isso fazem o que a moral condena, moral ou ética, costumes reprovam, as leis punem, não raro, severamente, comprovando que a predestinação tem um significado que engana muito.


Mais não me estendo sobre a predestinação, por ser um capítulo longo da história da religião católica. Li em von Pastor, no seu alentado estudo sobre os papas, vinte e quatro volumes, que comprei em Roma e o expedi para São Paulo.


Quem a meu ver crê na predestinação, assim se julga, é o presidente Lula, cuja vida pode ilustrar um verbete sobre esse dom. De fato, esse dom parece ter escolhido Lula para ser o salvador da pátria, o guerreiro indômito que, escolhido para uma grande missão, a de ser o líder mundial da luta da pobreza dos excluídos contra a riqueza das elites, que já receberam suas bordoadas inúteis e infelizes.


É o mal contra o qual promete lutar o ser humano que se entende predestinado. Vimos, até agora, em que deu a predestinação do presidente Lula, um escândalo que só não enodoa mais a nação brasileira porque somos, ainda, um país emergente, que a mídia mundial conhece pela rama. Em suma, para não me alongar, direi que a predestinação que, no fundo de seus sonhos de grandeza, mobiliza o antigo torneiro mecânico, que tem avião luxuoso e privado, que passeia abundantemente e que ignora, na sua alienação mental, o que se passou em seus domínios, ainda que ninguém acredite que ele não sabia de nada.


E aqui me detenho, porque essa nódoa política, que a História vai estudar e registrar em livros, ainda não acabou, e nem acabará, queira ou não queira o presidente Lula.




Diário do Comércio (São Paulo) 15/08/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 15/08/2005