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Au dessus de la mélée

 

Causa, quer me parecer, uma pressão insatisfatória a insistência do presidente Lula da Silva em procurar um bode expiatório, que tire de seus ombros a responsabilidade pela crise em que braceja o PT, partido que o lançou candidato e que fez uma campanha presidencial caríssima, que afinal, alcançou a vitória na terceira tentativa para conseguir o alto posto.


Ninguém está crendo no presidente Lula, nas suas tentativas de transferir a responsabilidade pelo escândalo dos rios de dinheiro que correm na CPI, delatando a cabala eleitoral paga com dinheiro arrecadado por meios ilícitos e escusos, como as ameaças em que são férteis as ditaduras.


É impossível dissociar o presidente Lula da Silva dessa maroteira subalterna, distante vários anos-luz dos princípios que devem, segundo os adeptos dela, consistir no louvado núcleo das repúblicas.


Todos os presidentes, de Campos Salles a João Goulart e, depois, dos militares, de Tancredo Neves - que como Napoleão II, não chegou a reinar -, a Fernando Henrique Cardoso, foram lançados por um partido ou coligações de partidos responsáveis pela campanha sucessória. Nessa responsabilidade compreendia a despesa da corrida ao Planalto. Não há como fugir desse esquema.


Mas, o presidente Lula da Silva, em todas as declarações, procura tirar o corpo fora, com acusações aleivosas a companheiros que o vem seguindo desde sua primeira aventura para conquistar a Presidência.


Estão vendo os que foram envolvidos pelo presidente ao que obriga a ambição. Os correligionários que carregaram a candidatura, finalmente vitoriosa, são esquecidos, as horas de trabalho para carregar a candidatura são jogadas na lata do lixo depois da campanha, ou quando o cargo periga na CPI.


É o que estamos presenciando todos os dias nas palavras do presidente Lula, que não teria chegado onde chegou se não fossem os apoios de amigos, admiradores, o Quarto Estado, os simples, os excluídos que nele depuseram suas esperanças de participarem de uma jornada triunfante, segundo apontavam as pesquisas de opinião.


Está aí, num retrato deformado, qual é o verdadeiro Lula da Silva, que faz tudo, desdiz o que disse no passado e esquece, mal agradecido, todas as adesões que seu nome recebeu nos dias gloriosos da fase pré-eleitoral, quando já despontavam os sinais de conquista do galardão político, a presidência de uma grande nação, hoje enxovalhada pela corrupção inimaginável que está comprometendo, se já não terá comprometido, a imagem e o conceito do Brasil.


O presidente Lula quer ficar au dessus de la mélée , acima da batalha, mas não ficará, como Getúlio Vargas também não ficou.




Diário do Comércio (São Paulo) 17/08/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 17/08/2005