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Projetos de poder

 

Dois partidos (PT e PSDB) sempre foram parecidos, não pelos programas em si, tampouco pela origem de seus integrantes, mas pela ambição comum de permanecer no poder por 20 anos. Note-se: a ambição não era de dez nem de 30, mas de exatos 20 anos. Para isso, usaram e usam de todos os recursos, inclusive a inevitável mala preta para dobrar resistências e angariar apoios -circunstanciais ou não.


O finado Sérgio Motta, no governo de FHC, falava em ficar no poder 20 anos. A fatalidade biológica que atinge a todos nós levou-o mais cedo, deixando o projeto em andamento. Com dinheiro e distribuição de cargos, o partido descolou a emenda constitucional da reeleição, mas só conseguiu ficar oito anos no poder. Mala igual também funcionou para abafar as CPIs que tentaram formar-se no Congresso. O advogado da União, levado ao STF como recompensa pelos serviços, foi o pizzaiolo principal na operação abafa.


Também o PT tem um projeto de poder no mesmo tamanho e usou dos mesmos métodos. Um acidente de percurso -a entrevista de um parlamentar da base aliada à Folha - deu no que está dando - e bota nisso o verbo "dar" em diversos sentidos.


Sempre parecidos, PSDB e PT tinham como diferencial básico a origem de seus membros. O primeiro herdou da antiga UDN a estrutura mental e operacional: adotava o papo-cabeça, professores eméritos ou não, vestais, varões de Plutarco - uma ova!


O PT herdou uma estrutura interna parecida com a do velho PCB, inclusive nas alas que se formaram nas entranhas de ambos os partidos, engolindo-se mutuamente. Neste particular, Lula seria um Prestes menor. Os dois foram heróis de jornadas gloriosas (a Coluna de um e a luta sindical de outro), com biografias emocionantes, das maiores de nossa história, mas cujos erros e equívocos causaram decepções lamentáveis. É evidente que as exceções no PCB e no PT são muitas, mas não contam.




Folha de São Paulo (São Paulo) 17/08/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 17/08/2005