Num dos numerosos giros que o presidente costuma dar pelo mundo, praticando um turismo político e protocolar que eu pessoalmente aprecio e louvo, acreditando que em linhas gerais ele se sai bem, contando pontos para o Brasil e para si próprio, fiquei admirado - e muita gente ficou pasma - quando soube de sua visita ao ditador Kadhafi, da Líbia.
Não tenho certeza, mas não se tratava de visita agendada, necessária a qualquer projeto de cooperação entre dois países. Foi apenas uma rotineira demonstração de boa vontade entre povos irmãos interessados na paz mundial e na concórdia entre os homens. (É lícito não acreditar em nada disso).
A mídia registrou o esforço do presidente do Brasil em se relacionar com todos os povos do mundo e com seus governantes, fossem eles quais fossem. Até aí, tudo bem.
Ainda não está provado (aliás, pouquíssima coisa está provada nesse cipoal de indícios, alguns indestrutíveis, mas indícios) sobre os recursos que o PT foi buscar no exterior - fato que provado, deve cassar o registro do partido e colocar o presidente Lula na obrigação de renunciar ou na condição de sofrer o impeachment.
A mulher de um ex-deputado, que não foi levada a sério, sendo desqualificada como testemunha pelos casos conjugais que criou com o ex-marido, disse (e ninguém deu importância ao que ela disse), que emissários do PT foram a Taiwan apanhar dinheiro para a campanha petista. E agora, com o estouro das contas no exterior da turma que fazia o marketing direto ou indireto da campanha presidencial, o ditador da Líbia aparece como um dos contribuintes da vitória do PT.
A partir desta suspeita (que ainda precisa ser provada) a visita de Lula a Kadhafi, que tanto nos espantou, começa a fazer sentido. Não chego ao exagero de dizer que Lula foi agradecer o dinheiro que seu partido teria recebido do ditador. Mas sabemos que entre os defeitos de Lula não está a ingratidão. Pelo contrário.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 22/08/2005